Bolsonaro, a derrota

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A Anvisa mandou interromper o ensaio clínico de fase 3 da Coronavac, a vacina chinesa que está sendo testada no país e, se licenciada, será produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan. O acordo com a China foi costurado pelo governador João Doria (PSDB).

Suspensões de ensaios ocorrem quando há eventos adversos graves: o objetivo é assegurar a qualidade do produto final. No caso em que deu origem à interrupção, houve a morte de um voluntário, mas por suicídio ou overdose.

É improvável que a vacina tenha algo a ver com isso. A Anvisa alega que recebeu informações incompletas do Butantan e que, diante disso, não tinha alternativa. Já o instituto diz que seguiu os protocolos. Em qualquer hipótese, é importante retomar o trabalho assim que a questão esteja esclarecida.

Poderíamos estar apenas diante de um mal-entendido, se não fosse mais uma atitude vexaminosa do presidente Jair Bolsonaro. Ele comemorou nas redes sociais o evento adverso, proclamando que vencera "mais uma". Em seu placar mental alucinado, ele teria imposto uma derrota à "vacina chinesa do Doria".

O gesto do presidente mina a credibilidade da Anvisa e contribui para a desconfiança na imunização, o que pode ter consequências terríveis para o país.

Pesquisas do Datafolha em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife mostram uma queda preocupante na disposição da população a se vacinar.

Como se não bastasse, Bolsonaro ainda encontrou tempo para fazer bravatas sobre a coragem no enfrentamento da Covid-19 e dizer que o Brasil "tem que deixar de ser um país de maricas". Como se não fosse ele próprio o covarde que se omitiu diante da pandemia.

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