Beco do Hulk dá vida nova a lugar degradado na zona leste
Grafiteiros pintam super-heróis em 130 metros de parede antes pichados em Ermelino Matarazzo
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Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital, ganhou uma galeria de arte a céu aberto. A estreita e curta viela Gildo Lao, entre a rua Fioravante Lopes Garcia e a avenida Milene Elias, passou a ter uma nova identidade após a ação de grafiteiros em cerca de 130 metros de muro. E assim nasceu o Beco do Hulk.
O nome é uma referência ao Beco do Batman, na Vila Madalena (zona oeste), que se transformou em ponto turístico pelos seus grafites coloridos nos muros das casas do bairro. Capitaneada pelo poderoso Incrível Hulk, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Capitão América, Pantera Negra, Thor, Dr. Estranho e Thanos dividem o espaço no muro, entre cores vivas e imagens que interagem para uma selfie com os super-heróis da parede para quem visita o local.
Embora bem mais tímido do que o beco famoso da zona oeste, inclusive pela metragem grafitada, os moradores aprovaram a novidade em Ermelino Matarazzo. Como relatam Lúcia Menezes, 57 anos, e o corretor de imóveis José Américo Menezes, 60 anos, que residem no bairro há 39 anos.
“Deu mais vida, sem falar que antes o muro estava horrível, todo pichado”, diz a dona de casa Lúcia, com o aval do marido. Animada, ela sugeriu que o bairro todo fosse grafitado, a fim de inibir a ação
dos pichadores.
E foi essa mesmo a ideia que teve o grafiteiro André da Silva França, 39, morador no Itaim Paulista (também na zona leste), um dos oito artistas que criaram o Beco do Hulk. “É uma troca para preservação do espaço com arte”, defende.
O que é endossado por Waldir Grisolia Júnior, 37, de Guaianases (zona leste), grafiteiro há 15 e integrante do coletivo Cenário Urbano. “Temos projeto para as ruas do entorno, inclusive o muro de frente, mas precisamos de patrocínio para compra do material”, diz. “O grafite é uma arte válida. Ele trouxe alegria aqui para o bairro”, afirma Paulo Ozeia Júnior, 19.
Vitória de Senna está estampada
Além dos super-heróis da ficção, parte dos 130 metros de muro do Beco do Hulk tem impresso a imagem de um ídolo da maioria dos brasileiros: Ayrton Senna.
O tricampeão mundial de Fórmula 1, morto no dia 1º de maio de 1994, foi lembrado pelos grafiteiros.
Num dos desenhos, Senna é retratado com o troféu da vitória no Grande Prêmio Brasil de 1991, em Interlagos (zona sul), quando terminou a corrida só com a sexta marcha de sua McLaren. Porém, o piloto, se vivo estivesse, talvez reclamasse de estar às margens do córrego Boturussu, que exala cheiro de esgoto e é cercado de lixo.
A Prefeitura de São Paulo, atualmente sob a gestão de Bruno Covas (PSDB), nunca canalizou o córrego, embora seja reivindicação antiga dos moradores de Ermelino Matarazzo. O ribeirão fica entre as avenidas Boturussu e Milene Elias.
Indagada sobre o problema, a subprefeitura local afirma que o córrego recebe “serviços de limpeza periodicamente”. E prometeu “intensificar” a ação no local.
A administração regional diz ainda que estuda a possibilidade de canalização deste trecho do córrego, que recebe a água de alguns afluentes e conduz até o córrego Mongaguá para desaguar no rio Tietê.
‘Vizinhos famosos’ alegram a vida do imóvel solitário
Antes, era um paredão sisudo e pichado. Há menos de três meses, a paisagem mudou para a família Vilella, a única que reside na estreita viela Gildo Lao, em Ermelino Matarazzo.
O imóvel residencial de número 1 fica exatamente em frente ao muro grafitado. “Passei a morar no Beco do Hulk”, afirma, orgulhoso, o estudante de design de interiores Thom Silva Vilella, 23 anos.
O jovem acompanhou todo o processo de produção do painel a céu aberto. No fim de semana, ele conta que o movimentou mudou no local. “Virou ponto turístico, com muita criança e adulto vindo aqui para tirar fotos com os personagens e super-heróis estampados no paredão”, afirma.
A Ramos Turismo, dona do terreno que circunda o muro e é utilizado como garagem dos ônibus, cedeu o espaço para os artistas do Cenário Urbano.