Militante trans é sequestrada e torturada na zona leste de São Paulo

Vítima diz ter escapado da morte porque bala parou no celular que estava na sua bolsa

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São Paulo

Uma militante trans do PSOL, de 26 anos, afirma ter sido sequestrada e em seguida torturada por dois homens, ainda não identificados, no último dia 16, em Itaquera (zona leste da capital paulista). A vítima teve o ombro deslocado e foi alvo de tiros, quando conseguiu fugir. Um dos disparos perfurou sua bolsa e parou em um de seus dois celulares. 

Uma militante do Psol, de 26 anos, afirma ter sido sequestrada e em seguida torturada por dois homens, ainda não identificados, na terça-feira (23) em Itaquera (zona leste da capital paulista). A vítima teve o ombro deslocado e foi alvo de tiros, quando fugiu. Um dos disparos perfurou sua bolsa e quebrou um de seus celulares - Arquivo pessoal

A vítima, que também é garota de programa e procurou a polícia, explicou que no dia do sequestro ia de ônibus ao Poupatempo de Itaquera para resolver alguns problemas com documentação. Durante o trajeto, ela se sentiu mal e resolveu descer em um ponto no caminho. “Em seguida, parou um carro escuro, ao meu lado, e o homem que estava no banco de trás me chamou pelo meu nome”, afirma. 

Quando se aproximou do carro, que ela não lembra o modelo, o suspeito lhe apontou um revólver na testa e a mandou entrar no carro. “Fiquei em choque. Aí, o homem me puxou com força, pelo braço, para dentro do carro”, diz. 

Dentro do veículo, ocupado por dois homens, o suspeito do banco de trás cobriu a cabeça da vítima, com uma sacola plástica branca, até sufocar, segundo ela. “Quando perdi o ar, ele tirou a sacola da minha cabeça, me vendou e, com a arma em minha cabeça, ordenou que eu ficasse deitada no chão do carro.” 

Sessão de tortura 

Dentro do carro começaram as torturas, a princípio, psicológicas contra a militante. Segundo ela, o homem que ocupava o banco traseiro a chamou de “comunistinha de merda” e várias vezes, segundo a vítima, mencionou o PSOL, afirmando que “todos os vermes” do partido são ratos. 

Uma militante do Psol, 26 anos, afirma ter sido sequestrada e em seguida torturada por dois homens, ainda não identificados, na terça-feira (23) em Itaquera (zona leste da capital paulista). A vítima teve o ombro deslocado e foi alvo de tiros, quando fugiu. Um dos disparos perfurou sua bolsa e quebrou um de seus celulares - Arquivo pessoal

O motorista do carro, lembra a militante, chegou a afirmar que a vítima seria esquartejada. “Primeiro ele falou que iriam arrancar meu silicone, depois meu nariz e orelhas. Neste momento pensei que iria morrer", afirma.

A dupla, conforme declara, circulou com a vítima por pouco mais de 20 minutos, quando o carro parou em uma estrada de terra, local que a vítima não consegue se lembrar onde é. “Eles me tiraram do carro puxando pelos cabelos, me puseram de joelhos, ainda vendada, e encostaram a arma em minha nuca. Aí eles me chamaram de traveco comunista de merda, afirmando que iriam matar as pessoas do PSOL, uma a uma, e que eu seria um recado para todos”, diz. 

Agressões

Após as ameaças, a vítima diz que começou a ser agredida fisicamente. Segundo a militante, um dos homens puxou seu braço para trás, provocando o deslocamento de seu ombro direito. Depois, ela foi alvo de socos no estômago, além de pisões no pé e joelho. “Meu corpo todo formigava, estava tão anestesiada que nem senti dor.” 

Em seguida, a dupla tirou a venda da militante, que constatou que ambos usavam luvas de couro, além de capuzes, para não serem identificados. Neste momento, a militante disse que eles poderiam levar seu dinheiro e cartões, desde que não a matassem. “Eles pegaram minha bolsa e afirmaram que só queriam os contatos de meus companheiros de partido. Percebi, só quando cheguei em casa, que eles levaram meu celular com os contatos do partido."

Durante a sessão de tortura, a vítima diz ter informado aos agressores todas suas senhas.  

Por fim, um dos homens levantou a militante, segundo ela, encostou a arma nas costas dela e a ordenou que caminhasse. “Nessa hora, nem pensei, tinha um barranco na minha frente, pulei ele e comecei a correr”, lembra. Em uma queda, ela afirma ter rompido o tendão de um dos pés. 

Os homens atiraram contra a vítima. Um dos disparos, segundo imagens enviadas à reportagem, atingiu a bolsa da militante, perfurando seu celular pessoal, que não foi levado pela dupla. 

A mulher chegou à beira de uma rodovia, da qual não se lembra qual é, e foi ajudada por um casal em um carro, que a deixou em um ponto de ônibus. “Não me lembro de mais nada. Só de quando já estava em casa, sentada no chão da sala, com o alarme disparado”. 

Medo 

Ela afirma que durante dois dias após a dupla levar seu celular, os agressores usaram sua conta para rastrear todos os grupos em que interage. 

A vítima é membro da setorial LGBT do PSOL de São Paulo e da direção do Quilombo Raça e Classe da CSP-CONLUTAS. 

Partido 

Frederico de Oliveira Henriques, integrante da direção nacional do PSOL, afirma que o partido tirou a militante de São Paulo, no momento em que soube da violência sofrida por ela. Na quinta-feira (25), o PSOL emitiu uma nota de repúdio à tortura e ameaças sofridas pela vítima. 

Henriques afirma que desde o dia do crime, o partido tenta se reunir com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB) . “Tentamos nos reunir com a secretaria para tomar providências o mais rápido possível. Há, neste caso, elementos de crime de ódio e também questões políticas. Cobramos a investigação do caso”, afirmou 

Resposta

A SSP afirma que policiais do 65º DP (Artur Alvim) realizam buscas por pessoas que auxiliem no esclarecimento do crime. “O caso foi registrado como lesão corporal, sequestro e cárcere privado [...] autoridade policial convocou a vítima para prestar depoimento”, diz trecho de nota.