Papéis de carta voltam a ganhar força em grupos na internet
Mania de adolescentes nas décadas de 1970 e 1980, hoje eles são colecionados por adultas
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Quem foi adolescente nas décadas de 1970 e 1980 lembra de como era divertido se reunir com amigas para comprar papéis de cartas e depois guardá-los numa pastinha ou em um fichário.
Esse hábito voltou a ganhar força graças a grupos em redes sociais e blogs. A internet é usada para a troca, compra e venda dos papéis de carta.
No Facebook, geralmente esses grupos são fechados, como em um clube onde menino não entra.
A reportagem pesquisou oito grupos de colecionadoras. O "Loucas por papéis de carta", por exemplo, tem 3.500 participantes.
Mas não são adolescentes que retomaram a mania –ou melhor, são as meninas daquela época, hoje mulheres na faixa etária a partir de 30 anos. A autônoma Vânia de Oliveira dos Santos, 40 anos, de Artur Alvim (zona leste), decidiu no início de 2019 retomar a velha paixão. "Não sabia que a mania continuava com adultos. Só encontrei mulheres acima dos 35 anos", afirma.
Atualmente, ela coleciona e comercializa papéis de carta pela internet. "Os mais raros chegam a custar R$ 200 a folha", afirma ela.
O item virou alternativa de negócio para outras colecionadoras. É o caso da Rosângela Moreno, 40, de Cerquilho (140 km de SP). Com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e depressão, ela fez dos papéis uma paixão e também uma forma de ganhar dinheiro. "Há 15 anos, publiquei um vídeo para mostrar minha coleção. A partir daí, as pessoas começaram a me procurar. Tenho clientes na Índia, na Grécia, na Espanha e em outras partes do mundo", afirma.
Sua coleção pessoal tem cerca de 6.000 papéis de carta. Estão à venda 22 mil. O estoque é renovado mensalmente. A comercialização é feita pela internet.
Já Simone Turassa, 44, economista em uma multinacional, do Ipiranga (zona sul), foi diagnosticada com depressão e desistiu do emprego há três anos. Os papéis de carta a ajudaram a dar a volta por cima. Parte de sua coleção, com 40 mil unidades, é comercializada pela internet. Ela diz ter o primeiro papel da personagem Hello Kitty, de 1976.
Encontro na zona leste
Recordista brasileira duas vezes pela organização RankBrasil como a maior colecionadora de papéis de carta do país, a bancária Flávia Romanha de Oliveira Holanda, 43 anos, do Brooklin (zona sul da capital), também é fundadora de uma das maiores comunidades no Facebook sobre o assunto, o "Loucas por papéis de carta".
Quando bateu o primeiro recorde, em 2004, ela tinha 19 mil papéis de carta. No segundo, em 2011, a coleção estava com 40 mil.
Colecionadora desde os dez anos de idade, hoje Flávia conta com mais de 45 mil itens. Todos eles estão arquivados em 200 fichários e catalogados numa planilha no computador. "Comecei a minha coleção com o papel de carta da boneca Quem me Quer, de 1976. Foi presente do meu pai. Naquela época era uma febre entre as garotas da minha idade", conta.
A pausa na troca e venda de papéis ocorreu quando engravidou. "Minha gestação era considerada de risco. Mesmo assim, mantive as compras. Meu desejo é criar a própria coleção de papéis de carta. Um dia vou conseguir", diz.
Flávia está organizando para agosto um encontro das participantes do grupo "Loucas por papéis de carta". O evento deverá ser realizado na zona leste da capital paulista.
A partir de R$ 0,50
Quem gosta de papel de carta pode usar as redes sociais para comprar. Nos grupos do Facebook pesquisados, a reportagem encontrou a folha a partir de R$ 0,50. Porém, os preços variam e chegam a R$ 20 ou a R$ 500, por apenas uma folha, como diz a economista e colecionadora Simone Turassa. "Já vi gente gastar tudo isso", afirma.
Fora das redes sociais é possível encontrar papéis de carta em papelarias. Uma das novidades é a linha da personagem Hello Kitty, que completa 45 anos em 2019. Produzida pela Teca Papelaria, a folha é comercializada por R$ 15.