Idosos encontram 12 obstáculos a cada 100 metros em SP, diz pesquisa

Postes, placas, entulho, camelôs e vasos são alguns dos problemas encontrados na caminhada

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São Paulo

Ao longo de 16 mil metros de calçadas em 50 pontos de grande fluxo de pessoas idosas na capital, 1.974 obstáculos entre postes, placas de trânsito, barracas, camelôs, vasos de plantas e materiais de construção foram registrados. Na prática, isso representa que em cada 100 metros de caminhada, 12 barreiras atrapalhavam a livre circulação do pedestre.

O estudo das condições das calçadas integra a pesquisa Mobilidade da Pessoa Idosa no município de São Paulo, desenvolvida pela Fundación Mapfre, junto com o Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito.

Das 1.102 pessoas com 60 anos ou mais abordadas em locais de fluxo, 80% relataram que existem muitos buracos nas calçadas, motivos de quedas e tropeções. Para 63% dos entrevistados, obstáculos como postes, lixos e bancas foram apontados.

"A cada 100 metros há 12 obstáculos no caminho. A pessoa não anda, mas dança para desviar. O que faz, como a pesquisa apontou, o pedestre idoso sair da calçada e caminhar pela rua, o que pode provocar um acidente de trânsito", afirma Leides Barroso Azevedo Moura, coordenadora técnica de pesquisa da Fundación Mapfre.

Outro ponto destacado pela pesquisadora é a falta de respeito dos motoristas de ônibus. "Quase 70% relataram as freadas dos motoristas, com muitas das pessoas em pé. Isso é outro fator de risco de queda. Temos de mudar para todos. Não só para a pessoa idosa. Uma melhor capacitação desses profissionais, por exemplo", afirma Leides.

'A gente tem de tomar cuidado para não cair', diz aposentada

Ao caminhar pelas ruas centrais da cidade, a hoje aposentada Lázara Rodrigues de Souza, 91 anos, conta que não desgruda os olhos do chão. Isso para evitar uma queda.

"A gente tem de tomar cuidado para não cair, principalmente nos buracos nas calçadas", afirma a ex-camareira de hotel hoje fechado na região central.

A aposentada Lázara Rodrigues de Souza, 91 anos, caminha pela rua Barão de Itapetininga, na região central de SP - Rivaldo Gomes/Folhapress

Comunicativa, dona Lázara elenca as dificuldades que enfrenta na área de mobilidade urbana. Quando está no transporte público, por exemplo, no ônibus, relata a dificuldade para conseguir um assento. "É muito difícil, principalmente os jovens. Sabe, eles fingem que estão dormindo".

E vai além: "E para atravessar então? Tem motorista que vem com o carro por cima da gente", diz Lázara, que já perdeu as contas do número de netos, bisnetos e tataranetos.

A cozinheira aposentada Rosa Caravello Diello, 67 anos, também aponta os buracos e desníveis nas calçadas como os principais vilões. "Ainda mais para mim que tenho problemas nas pernas", afirma. 

Administração pública

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), anunciou em julho deste ano que investirá R$ 400 milhões para a execução do Plano Emergencial de Calçadas, que resultarão em 1,5 milhão de m² de calçadas com grande fluxo de pedestres requalificadas até o fim de 2020. 

Em toda a cidade há cerca de 34 mil km de calçadas e cerca de 17% são de responsabilidade da prefeitura.

Veja os números

Em 2020 

  • 14,3% da população terá 60 anos ou mais, total de 30,2 milhões de habitantes 

Em 2030 

  • Mais de 42 milhões de pessoas terão mais de 60 anos

Em 2040 

  • Estima-se em 54 milhões de pessoas com 60 anos ou mais

Pesquisa quantitativa 

  • 1.102 pessoas com 60 anos ou mais, abordadas entre os dias 10 e 28 de julho em pontos de fluxo na capital 

Pesquisa qualitativa 

  • 40 pessoas entrevistadas em profundidade, sendo 20 idosos e 20 especialistas em mobilidade urbana 

Sexo 

  • Mulheres: 51,4% 
  • Homens: 48,6%

Faixa etária 

  • Entre 60 e 69 anos: 61,2% 
  • Entre 70 e 79 anos: 30,9% 
  • Com 80 anos ou mais: 7,9%

Nível de escolaridade

  • 7,7% analfabetos
  • 55% não completaram o ensino fundamental

Calçadas

  • A cada 100 metros de caminhada são encontrados 12 obstáculos
  • Buracos: 80%
  • Irregularidades: 73%
  • Degraus: 72%
  • Declive lateral: 68%
  • Lixos, postes e bancos: 63%

Infraestrutura das ruas 

  • Boa: 16,8%
  • Mediana: 32,2% 
  • Ruim: 20,2% 
  • Péssima: 30,8% 

Iluminação das ruas 

  • Insuficiente: 34% 
  • Parcialmente suficiente: 20% 

Motivos do deslocamento 

  • Lazer: 38,9% 
  • Consulta e exames médicos: 38% 
  • Trabalho: 27% 

Modo de locomoção 

  • A pé: 33,9% 
  • Ônibus: 34,3% 
  • Metrô: 3,2% 

Motoristas de carros respeitam as pessoas idosas?

  • Sim: 50,1% 
  • Não: 49,9% 
     

Circulação dos veículos 

  • Transitam com velocidade excessiva: 31,7% 
  • Transitam com velocidade normal: 57,9% 
  • Transitam com velocidade baixa: 10,4% 

Gentileza 

  • No ônibus, é frequente a pessoa idosa não ter assento cedido por outra pessoa 
  • 30% dos entrevistados disseram que os motoristas sempre dirigem de forma agressiva, com freadas bruscas 
  • Idosos alegaram que muitos condutores de carro e de motocicletas não respeitam o pedestre, nem esperar a travessia na rua 

Medo 

  • 56% dos entrevistados têm medo de sofrer acidente de trânsito 

Ônibus 

  • Muitos pontos não têm abrigos para sol ou chuva 


Avaliação in loco da infraestrutura das calçadas 

  • 50 pontos  de grande fluxo da cidade, entre hospitais e prontos-socorros, clínicas, supermercados, igrejas, centros comerciais, bancos e serviços (cartórios), foram visitados para avaliar as condições de segurança e conforto para se caminhar 
  • 1.974 obstáculos dos mais variados foram mapeados 
  • 1.031 postes atrapalhando a livre circulação 
  • 249 placas de trânsito 
  • 106 barracas ou camelôs 
  • 47 lixeiras 
  • 541 elementos, como vasos de plantas, materiais de obras e construção, que prejudicam o livre fluxo de pedestres

Fonte: Fundación Mapfre e Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito

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