Número de reclamações por falta de água cresce 31% em SP
Zona leste é a região mais atingida, onde as reclamações quase dobraram, como é o caso de Itaquera
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O número de queixas por falta de água cresceu 31,1% na capital no ano passado, em comparação com 2018, passando de 66.253 reclamações para 86.829.
O aumento foi ainda mais acentuado em bairros da zona leste, onde as reclamações quase dobraram. Os números são da Sabesp.
Líder do ranking, Itaquera teve um aumento de 93,5% nas queixas, seguida por outras três áreas de distribuição também localizadas na zona leste. Mooca (84,5%), São Mateus (72,9%) e São Miguel (70,4%) vêm na sequência com mais reclamações à companhia, sob controle do governo estadual, da gestão João Doria (PSDB).
As regiões de distribuição de água da Sabesp são mais amplas do que os bairros que levam seus nomes.
As quatro áreas que mais tiveram aumento representam quase toda a zona leste.
Apesar do aumento na quantidade de queixas por desabastecimento, os números do ano passado ainda são bem menores do que no início da crise hídrica que assombrou a Grande SP. Em 2014, foram quase 206 mil reclamações, ante as quase 87 mil de 2019. No ano passado, foram seis reclamações por hora, em média.
Embora as queixas tenham explodido na zona leste, a capital como um todo teve aumento. Entre as 15 regiões de abastecimento da cidade, só três permaneceram estáveis ou apresentaram redução: Sé (região central), Ipiranga e Santo Amaro (zona sul).
Morador do Vale das Virtudes, no Campo Limpo (zona sul), o mecânico de climatização Claudio Monteiro, 34 anos, afirma que a redução da pressão de água é diária e acontece desde meados do ano passado. "A gente não sente tanto, porque tem reserva", afirma.
Ele tem uma caixa d' água com capacidade de 500 litros, mas quando a situação persiste, complica. Entre os últimos dias 7 e 11, os moradores do bairro ficaram cinco dias sem água. A situação foi normalizada, mas a redução da pressão segue acontecendo.
Moradores se queixam da baixa pressão
Os moradores do condomínio residencial Colina Verde, situado em Guaianases (zona leste), dizem que estão sem água há aproximadamente dois meses.
Cerca de 200 famílias vivem na área composta por dez torres, com 20 apartamentos cada. O custo com água comprada em caminhões-pipa dividido entre elas é de quase R$ 17 mil.
Segundo os vizinhos, o problema começou entre o final de novembro e o início de dezembro do ano passado. A informação dada aos moradores inicialmente é que a situação seria regularizada em duas ou três semanas, mas persiste.
A síndica Maria Joana Darc de Andrade, 53 anos, diz que a redução na pressão ocorre entre às 23h e às 5h, horário que deveria abastecer a caixa d'água.
A água é liberada normalmente entre 5h e 10h e, depois disso, o fornecimento é reduzido de novo.
A Sabesp diz que instalou equipamento no prédio que apontou pressões de água acima do normal. "Após visita técnica, o cliente foi orientado sobre providências a serem tomadas nas instalações internas."
Especialista vê melhora no abastecimento
Mestre em engenharia hidráulica e professor de mecânica dos fluidos da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Jorge Giroldo afirma que, apesar do aumento no número de queixas, a Sabesp tem melhorado a segurança do abastecimento, após a crise hídrica que atingiu a Grande São Paulo a partir de 2014.
"Anteriormente, os reservatórios eram interligados pelas próprias adutoras de distribuição. Depois daquela crise, houve uma série de interligações diretamente da fonte, que são os próprios mananciais. Aconteceu, por exemplo, essa do sistema Rio Grande com o Alto Tietê, que já está pronta. E aquela do rio Paraíba com o sistema Cantareira", diz.
Segundo o especialista, uma das hipóteses plausíveis para o aumento do número de queixas na zona leste é o fato de a Sabesp ter feito um acordo para disponibilizar água para Santo André (ABC), o que ocorreu a partir de setembro.
"Pode estar direcionando um pouco mais o abastecimento para Santo André. É uma das hipóteses", diz.
A operação da Sabesp no município começou, oficialmente, em 11 de setembro de 2019. Área de distribuição que atinge bairros próximos de Santo André, a Mooca (zona leste) teve um aumento de 147,6% nas queixa de falta de água nos últimos quatro meses do ano (em 2019 inteiro foi de 84,5%). Na capital como um todo, o aumento no último quadrimestre foi de 47,5%.
Resposta
A Sabesp, empresa da gestão João Doria (PSDB), diz que os números de reclamações de 2019 estão próximos da média dos anos anteriores (2015 a 2018).
"A Sabesp faz a gestão de pressão nos horários de menor consumo", diz a nota da companhia de saneamento.
Também afirma que, sobre Santo André, não há qualquer relação entre a melhoria do abastecimento do município e as reclamações de falta d'água nas regiões da Mooca e São Mateus. A companhia diz que produz cerca de 62 mil litros de água por segundo na região metropolitana de São Paulo e que o aumento no volume de água enviado para Santo André foi de 200 litros por segundo, "um impacto pequeno no sistema".
Superintendente da Unidade de Negócio Centro da Sabesp, Roberval Tavares de Souza disse que a companhia faz troca de tubulações nos bairros atendidos pela região Mooca e que, por isso, podem ocorrer intermitências no abastecimento para a execução dos serviços.
Sobre o imóvel do mecânico Claudio Monteiro, a Sabesp diz que a falta d' água foi ocasionada por um vazamento na rede, cujo reparo foi realizado no final de semana, solucionando o problema na região.