Descrição de chapéu Zona Leste

Ônibus perdem 4 em cada 10 passageiros com o monotrilho em SP

Abertura de novas estações afeta linhas que passam na avenida Anhaia Mello, na zona leste

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São Paulo

As linhas de ônibus que rodam paralelas às estações da linha 15-prata do monotrilho chegaram a perder 4 em cada 10 passageiros desde que as paradas São Lucas, Camilo Haddad, Vila Tolstoi e Vila União, todas na zona leste, começaram a operar em período integral (das 4h40 à meia-noite), em janeiro do ano passado. 

Levantamento feito pelo Agora, com base nos dados sobre o número de passageiros transportados nos ônibus municipais, mostra que todas as linhas que percorrem avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello inteira, onde ficam as estações inauguradas, tiveram redução no número de passageiros se comparado o número de janeiro a outubro de 2018 com o mesmo período de 2019. 

A linha que teve a maior redução foi a 5110-23 (Jardim Planalto/Terminal Mercado), com menos 44,7% dos passageiros (de 419.816 para 230.385). Ela funciona apenas das 6h às 8h, levando passageiros do bairro da zona leste até o centro. 

A dona de casa Claudia Aparecida Santana, 49 anos, foi uma das que abandonou a linha. Ela levava 45 minutos de casa, no Sapopemba, até o metrô Vila Prudente. Desde quando a estação Vila União foi inaugurada, esse percurso caiu para 15 minutos. “Até em dias de chuva, quando o monotrilho leva mais tempo nas paradas, eu ainda prefiro ir por ele do que pegar ônibus”, conta. 

Até linhas mais tradicionais e com percurso mais longo, como as que ligam o Terminal Sapopemba, na zona leste, ao Terminal Parque Dom Pedro 2º, no centro, tiveram diminuição. 

O motorista Manoel Bernardo, 58, que está na linha 5142-10 há oito anos, diz que a cada estação do monotrilho que era aberta, era visível que os passageiros da parada de ônibus correspondente diminuíam. 

“Antes, eu levava quase dois minutos em cada parada. Agora, como os pontos estão vazios, passo direto. Até diminuiu o tempo de viagem.”

Usuários dizem ganhar meia hora com as inaugurações

O ferroviário Moisés Galdino, 47 anos, afirma que ganhou aproximadamente 30 minutos no seu trajeto para ir do bairro São Lucas até a Vila Prudente, ambos na zona leste, desde a inauguração das estações da linha 15-prata do metrô, há um ano. 

Com o monotrilho, ele diz levar apenas 10 minutos da estação Camillo Haddad até a baldeação com a linha 2-verde do metrô.

Galdino, porém, reclama quando a operação Paese (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência) é acionada, como nos casos em que há falha ou testes programados da linha 15 nos fins de semana.  “Fica complicado, pois demora muito até a Vila Prudente”, conta. 

Elom Kodjo, 30, também afirma que ganhou meia hora no seu percurso da zona leste até o centro da capital paulista. Para ir do Conjunto Teotônio Vilela à região da Consolação, ele costumava utilizar a linha 5110-10 (Terminal São Mateus/Terminal Mercado) e levava 1h30 até chegar ao seu destino. Agora, o passageiro embarca na estação Sapopemba, uma das últimas inauguradas, e consegue cruzar a cidade em, no máximo, uma hora. “Ficou bem mais rápido”, afirma Kodjo.

Falta entrosamento entre os órgãos, diz especialista

Para o especialista em transportes públicos Sergio Ejzenberg, a falta de entrosamento entre as ações do governo do estado, responsável pelo monotrilho, e da prefeitura, que cuida das linhas de ônibus, causa esse tipo de problema.

“Há necessidade de um planejamento conjunto entre prefeitura e estado, até porque temos o uso integrado desses meios de transporte [monotrilho e ônibus] pelos passageiros. Para eles, tanto faz qual é o meio, o importante é chegar mais rápido”, explica.

Ejzenberg ainda destaca que em outros países, quando um novo meio de transporte é inaugurado, em dois ou três meses já é possível notar a mudança das rotas usadas pelos usuários e, assim, readequar o sistema. “Aqui não temos essa pressa porque os donos das empresas de ônibus não deixam de ganhar, mesmo que os ônibus estejam rodando mais vazios. Os subsídios que eles recebem saem do bolso da população”, critica o especialista.

Resposta

A SPTrans, da gestão Bruno Covas (PSDB), que faz a administração das linhas de ônibus, afirma, em nota, “que sua equipe técnica de planejamento acompanha constantemente as mudanças na cidade para programar o atendimento à população equilibrando a oferta e demanda de linhas”.

“Desta forma, quando há a entrega de uma estação de metrô, um novo shopping center, um condomínio ou surgimento de novos bairros, além de pedidos da comunidade, é preciso acompanhar constantemente a necessidade de deslocamento destes novos grupos e adaptar frota, linha e trajeto de modo a atender com qualidade”, afirma.

“Portanto, as linhas de ônibus são ajustadas periodicamente sempre obedecendo a critérios de demanda, oferta de transporte e de lugares estabelecidos para o sistema de acordo com o comportamento dessa determinada região após mudanças no espaço urbano”, diz a gestão Covas.

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