Aposentada e criança utilizam roupas de plástico para abraçar pessoas próximas
O objetivo é matar a saudade sem correr riscos de contaminação
Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados
Você atingiu o limite de
5 reportagens
5 reportagens
por mês.
Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login
Durante a maior parte da pandemia do novo coronavírus, a aposentada Ivone Aniceto, 65 anos, só via os filhos e netos do portão. Para superar o cumprimento a distância, ela resolveu criar uma roupa de plástico para poder abraçar sem contaminar os outros nem ser contaminada.
Viúva, Ivone mora sozinha na cidade de São José dos Campos (89,4 km da capital paulista). Até a pandemia começar, ela praticava diversas atividades fora de casa, como caminhada, pilates, teatro e inglês. Também era comum receber amigos e familiares em casa. “Estou acostumada a abraçar e beijar as pessoas. Com a quarentena não pode fazer nada disso”, lamenta.
Desde o fim de março, ela só sai de casa para fazer atividades realmente necessárias, como ir à farmácia ou ao mercado. Para isso, ela segue todos os cuidados para se proteger, utilizando máscara e álcool em gel, por exemplo. Ela conta que se preocupa mais em passar o vírus para alguém do que contraí-lo.
Na segunda semana de maio, ela comprou um plástico bolha e cortou para virar uma espécie de saia vestida pelo pescoço. No rosto, utiliza uma máscara, um protetor feito de acrílico e um saco plástico grande e largo (para entrar ar). Antes do encontro, a roupa é higienizada com álcool 70 em spray. “Para a pessoa que abraçar não ter dúvida de que está protegida”, conta.
O engenheiro elétrico Rodolfo Kleber Aniceto, 46, é filho de Ivone. Ele só descobriu que poderia abraçá-la após dois meses de distanciamento, durante a visita feita no dia das mães. “Foi emocionante”, conta.
Rodolfo mora a três ruas de distância da mãe. Para ele, momentos como esse permitem dar mais valor ao que não pode mais ser feito como antes. “Um simples abraço se torna muito mais gostoso, amoroso”, comenta.
Ivone conta que tem três roupas de plástico. Uma feita com o plástico bolha, cuja largura permite movimentar os braços; outra feita com um plástico mais grosso, neste caso ela é abraçada por outra pessoa; e também uma capa de chuva, utilizada junto com luvas. A variedade é para não usar a mesma roupa para abraçar pessoas de casas diferentes. Além disso, após o uso, ela a retira, lava e deixa no varal por cinco dias “para não ter perigo”.
Para a aposentada, mesmo com plástico, o abraço é muito bom e emocionante. “Você sente o coração quando dá um abraço sincero de amor mesmo”, diz.
Aluno usa capa de chuva para abraçar a professora
No último dia 20, a maquiadora Mariana Peres, 35, aproveitou que precisava ir até a escola em que o filho estuda, a fim de buscar materiais, para possibilitar que ele abraçasse a professora. João Vicente Peres de Oliveira, 5, vestiu uma capa de chuva e máscara.
Mariana conta que o filho saiu do carro todo “encapado” e correu para abraçar a professora Débora Barros quando a viu. Emocionada, a maquiadora só conseguiu tirar uma foto do momento, que foi bem rápido. “Por um segundo, tudo parou. Parecia que não existia mais nada e a emoção tomou conta”, comenta.
Após o encontro, Mariana descartou a capa de chuva e higienizou os itens recebidos. “Por mais que tenham entregue com luva e utilizado álcool, também limpei”, afirma.
Este é o último ano em que João estudará na escola particular. “Ele sempre pede para ir à escolinha porque está com muita saudade do convívio com a professora e os amigos”, diz.
Com a chegada do coronavírus, Mariana parou de trabalhar e cumpre o distanciamento social com os dois filhos e o marido desde o final de março. A família de Jaú (302 km de São Paulo), só sai de casa para fazer atividades essenciais, como ir ao mercado. E buscar o material extra na escola para que o filho pudesse fazer as atividades. “Estamos cumprindo certinho para acabar logo com isso”, conta Mariana.