Após ultimato de Covas e saída de secretário, ônibus continuam rodando lotados na capital paulista
Coletivos rodaram cheios na manhã desta segunda (15); passageiros dizem que lotação é a mesma de antes do início da quarentena
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Os ônibus municipais da capital paulista continuaram trafegando lotados nesta segunda-feira (15), uma semana após a recomendação da prefeitura para que coletivos viajassem apenas com passageiros sentados.
A orientação pretende evitar aglomerações no transporte público e, consequentemente, minimizar o risco de contaminação pela Covid-19.
O secretário Municipal de Transportes, Edson Caram, apresentou nesta sexta-feira (12) pedido de exoneração do cargo, após o prefeito Bruno Covas (PSDB) ameçar demiti-lo caso os ônibus continuassem rodando cheios.
O Agora voltou a região do Grajaú (zona sul) nesta segunda e constatou que a quantidade de veículos com pessoas viajando em pé --muitos superlotados-- aumentou em relação à semana passada. Passageiros também relataram que os coletivos estavam mais cheios, quatro dias após a liberação para que shoppings e comércios de rua voltassem a funcionar na cidade.
A cuidadora de idosos Lúcia Silva, 45 anos, voltou a usar ônibus há cerca de duas semanas, quando retomou o trabalho com a família que a emprega. Como notou ps ônibus mais cheios na avenida Dona Belmira Marin, ela resolveu embarcar em uma linha mais vazia. “O ideal seria pegar a 675G-10 [Pq. Residencial Cocaia-Metrô Jabaquara], mas esta é muito lotada e me sinto insegura de viajar nela”, disse.
No mesmo ponto de ônibus, o promotor de vendas Carlos Machado, 42, não conseguiu embarcar no primeiro ônibus da linha 6115-10 (Terminal Grajaú-Cantinho do Céu), pois o veículo estava muito cheio e o motorista não parou. “Sempre uso esta linha, que enche de gente. Já vi o motorista negando viagens mais adiante, quando [o veículo] fica mais cheio. Mas neste ponto aqui, é a primeira vez que acontece.” Machado ainda disse que chegaria atrasado ao trabalho.
Em dez minutos, 23 ônibus passaram pelo ponto onde estavam a cuidadora e o promotor de vendas. Destes, 13 estavam bem cheios e com pessoas viajando em pé.
Falta fiscalização nas ruas, afirma motorista
Um motorista de ônibus afirmou, em condição de anonimato, que os coletivos circulam cheios de passageiros pois não há fiscalização nas ruas e corredores. Segundo ele, somente nos terminais há fiscais.
A falha na fiscalização tambem é apontada pelos passageiros. A psicóloga Camila Santos, 34 anos, conta que o ônibus que utiliza sai do Terminal Grajaú (zona sul de SP) com quase todos os assentos ocupados e sem passageiros em pé. “Mas é só ir para a rua que as pessoas começam a embarcar e [o veículo] começa a encher de gente, inclusive em pé.”
Quando retorna do trabalho, por volta das 16h, Camila diz que os coletivos chegam ao terminal abarrotados de pessoas.
De volta à rotina
Tanto passageiros quanto motoristas de ônibus entrevistados pelo Agora foram unânimes em dizer que a lotação dos ônibus está bem próxima do que era antes da pandemia.
Por volta das 7h30, a atendente de call center Liliane Marques Duarte, 24 anos, aguardava ônibus na parada Rio Bonito, em Cidade Dutra (zona sul de SP), para seguir a Santo Amaro, onde trabalha. Ela conta que desde o fim da semana passada, já se sente como "antes da quarentena", decretada pelo governo estadual em 24 de março. “O número de passageiros voltou à rotina do que era antes [da pandemia]. A única diferença é que o povo agora está usando máscaras.”
Liliane usa a linha 695H-10 (Jd. Herplin-Terminal Santo Amaro) que, segundo ela, está sempre lotada. "Nunca consigo viajar sentada", diz.
Enquanto a atendente falava com a reportagem, um ônibus da linha 5370-10 (Terminal Varginha-Largo São Francisco) parou no ponto e muitos passageiros desembarcaram. Mesmo assim, o coletivo ainda ficou lotado. Uma mulher se aproximou do veículo e bateu com a mão na porta de embarque, que estava fechada. O motorista abriu e ela teve de pedir licença aos demais passageiros para conseguir entrar, em razão da grande quantidade de pessoas
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou ter orientado as empresas de ônibus a realizar viagens, sem exceder a capacidade máxima de passageiros sentados, em decorrência do uso das linhas por trabalhadores de serviços que voltaram a funcionar na cidade. "O objetivo é reduzir a disseminação do vírus", diz trecho de nota.
A SPTrans (empresa que gerencia o transporte público da capital paulista) afirmou que acionou sua equipe de fiscalização para apurar o desempenho operacional das linhas citadas pela reportagem e fará os ajustes, quando necessários. A fiscalização é realizada por 673 profissionais, afirma a empresa.
Ainda segundo o governo municipal, a frota em funcionamento nesta segunda-feira (15) é de 11.828 carros, representando 92,31% da frota operacional. Os veículos atendem 1.266 linhas para uma demanda de 1,3 milhão de pessoas, segundo registrado na sexta-feira (12).
Segundo a pasta, em reunião realizada na última quarta-feita (10), entre a Secretaria Municipal dos Transportes e rerpresentantes das empresas de ônibus, foi reconhecida a "impossibilidade de retorno de toda a frota às ruas", por causa do percentual de funcionários afastados por integrar o grupo de risco de contágio da Covid-19.