Doutores da Alegria fazem lives e animam pacientes internados

Grupo de artistas tem tentado acabar com a solidão de pacientes internados com a Covid-19

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São Paulo

Sem poder se apresentar presencialmente por causa da pandemia do novo coronavírus, o grupo Doutores da Alegria passou a realizar lives, ou seja, transmissões pela internet, para pacientes internados na enfermaria do Hospital Municipal Doutor Moysés Deutsch, no M’Boi Mirim (zona sul),
desde 21 de maio.

A iniciativa, ainda um projeto-piloto, se repetiu por mais três vezes, sendo a mais recente na última quarta-feira (17).

Antes do coronavírus, os 47 “palhaços doutores” da trupe realizavam duas visitas semanais a oito hospitais em São Paulo, quatro em Recife, além de projetos no Rio de Janeiro, também na área da saúde.

Impedidos de trabalhar presencialmente, os artistas passaram a usar a tecnologia, além de contar com a ajuda de profissionais da saúde, para poder interagir com pacientes atendidos pelos “doutores” antes
da pandemia.

De acordo com o vice-diretor clínico do hospital da zona sul, o psiquiatra Flavio Mitio Takahagui, dois palhaços conversam ao mesmo tempo com pacientes, por meio de um tablet, manuseado por um psicólogo devidamente paramentado com EPIs (equipamentos de proteção individual).

“É bonito ver a sensibilidade deles [artistas] ao improvisar com elementos que veem perto dos pacientes, fazendo com que pessoas internadas voltem a sorrir. Eles conseguem isso de forma curta, rápida, sem ofensas. É impressionante”, afirmou Takahagui.

Em uma intervenção, assistida em vídeo pela reportagem, um palhaço pergunta o que o paciente gostaria de ouvir para animar seu dia. O homem, internado por causa do novo coronavírus, afirma querer escutar uma música religiosa.

“Só sei tocar uma, chamada ‘O badalo do sina da igreja’”, diz um dos artistas que, na sequência, pega um violão, faz um acorde e balança o instrumento, como se fosse um sino badalando, fazendo o paciente gargalhar.

Entre os cerca de 300 internados com Covid-19 na enfermaria do M’Boi Mirim, em 21 de maio, uma idosa chamava a atenção da equipe de enfermagem, por nunca sorrir desde sua internação, em 15 de maio. Mas após conversar com os especialistas em “besteirologia”, cinco dias após dar entrada no hospital, a mulher finalmente deu uma risada, arrancando lágrimas de emoção em uma profissional do hospital, de acordo com relato de Takahagui.

O psiquiatra destacou ainda que, em decorrência da solidão provocada pelas medidas de prevenção à Covid-19, algumas pessoas podem desenvolver transtornos psicológicos como ansiedade, ou até mesmo depressão. Dar risadas pode ser um bom remédio.

Ausência da trupe deixa vazio em hospital público

“Está faltando sorrisos em nossos corredores”, afirmou Manoel Messias Freires Júnior sobre a interrupção dos atendimentos feitos pelos Doutores da Alegria no Hospital Municipal do Campo Limpo (zona sul), onde ele é coordenador de voluntariado.

A unidade de saúde é atendida pela trupe há cerca de 12 anos, levando alegria para pacientes e funcionários. “A visita deles é muito acolhedora. Eles vão em vários setores, que só elogiam o trabalho dos doutores [da alegria]”, disse Júnior.

O coordenador afirmou ainda que a presença dos palhaços dá vida ao hospital e quebra a rotina, principalmente nos corredores, onde os artistas são seguidos por crianças, que acabam esquecendo, em um passe de mágica, que estão em um hospital.

Porém, desde 17 de março, quando os palhaços da trupe interromperam suas visitas, o hospital está mais parado e triste, admitiu o coordenador dos voluntários da unidade de saúde. “A presença deles é importante para nós, tanto pacientes como funcionários. Espero que voltem logo, assim que normalizar a rotina no hospital. Os Doutores da Alegria fazem parte daqui, o hospital é deles também”, desabafou Júnior.

Palhaços compartilham três vídeos por dia

Os artistas do Doutores da Alegria precisaram se adaptar à linguagem audiovisual, por causa da pandemia do novo coronavírus. Antes disso, eles trabalhavam em contato direto com o público, sem usar nenhum tipo de tecnologia.

Os palhaços deixaram de ir a hospitais de São Paulo em 17 de março, uma semana antes de o governo paulista decretar quarentena no estado, afirmou o diretor artístico Ronaldo Aguiar.

Desde então, o grupo realiza reuniões diárias, por meio de chamada de vídeo, durante as quais desenvolveu o projeto “Delivery Besteirológico”. “Trabalhamos, pelo menos dez horas diárias, para criar formas de manter nosso trabalho, sem precisar entrar nos hospitais”, disse Aguiar.

No início de abril, os 47 palhaços da trupe já haviam se familiarizado com a ideia de interagir com pacientes por meio de vídeos. Desde então, o Doutores da Alegria compartilha diariamente três vídeos com piadas e intervenções.

Até o momento, os vídeos foram visualizados cerca de quatro milhões de vezes nas redes sociais do grupo. Apesar do sucesso de cliques, Aguiar disse que o foco principal do projeto era atingir profissionais da saúde e pacientes em hospitais.

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