Namorados antecipam decisão de morar juntos por quarentena
Casais resolvem viver na mesma casa para economizar e para evitar ficar longe durante pandemia
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A publicitária Júlia de Alencar, 23, e o desenvolvedor de sistemas Victor Augusto Mendes, 25, planejavam morar juntos em algum momento do futuro, mas a conversa sobre ainda estava em um estágio inicial, até o surgimento da quarentena.
A pandemia antecipou os planos do casal, que já namora há cerca de dois anos. “Planejávamos isso para um pouquinho mais pra frente, pensávamos que talvez ano que vem, depois de nos organizarmos melhor financeiramente. Mas aí começou a quarentena e ele acabou ficando na minha casa, para não ficarmos separados. Depois de um tempo não fez mais sentido continuarmos com os dois aluguéis”, conta Júlia.
O caso deles não é isolado. Muitos casais de namorados têm aproveitado a mudança de rotina imposta pela quarentena para antecipar a decisão de dividir a mesma casa, seja pela questão econômica ou influenciados pela vontade de não ficar separados no período.
Mesmo com medo por conta da pandemia, Júlia e Victor, que estão vivendo juntos desde o fim de maio, em Pinheiros (zona oeste), fizeram a mudança e usaram a tecnologia para minimizar os riscos de contágio.
“A gente procurou tudo por aplicativo, filtrando pelo preço que podíamos pagar. Na verdade, a gente não fez visita. Foi meio na loucura. Não queríamos sair. Contamos com a plataforma mais moderninha de imóveis para alugar, porque eles têm fotos com qualidade, vídeos do apartamento etc.”, explica a publicitária.
A quarentena também deu um empurrãozinho para os professores Lorena Mariela Betti, 44, e Wagner Sérgio Marçon, 51. Para ajudá-la após uma perna quebrada, ele ficou algumas semanas na casa de Lorena. Logo depois começaram as restrições de circulação.
“Brincamos dizendo que estamos juntos pela circunstância. Acho que não sai mais daqui”, diz Lorena.
“Ele já está pensando em vender o apartamento”, diz a professora de São Bernardo do Campo (Grande SP).
Segundo o advogado Yoram Farias, namorados que decidem morar juntos apenas para estar mais perto não precisam se preocupar com questões legais.
“Não configura união estável. O entendimento do Supremo deixa claro que é a intenção de vida em comum e de formar família que caracteriza união estável. Então, caso seja a vontade deles, podem, sem medo, morar no mesmo local”, afirma.
'Teste'
Depois de namorarem por quatro anos à distância, a quarentena também antecipou os planos de morar juntos de Felipe Cavallaro Leonardo, 25 anos, e Natali Brandt, 28.
O consultor de TI, morador de Guarulhos (Grande SP) e a professora de matemática, que vive em Porto Alegre, se viam uma vez por mês, antes do início da pandemia. Agora, depois de passar três meses sem se ver por conta do novo coronavírus, estão vivendo juntos na capital gaúcha, há poucas semanas.
“Estávamos pensando nisso faz um tempo já, talvez a pandemia acelere as coisas. A quarentena antecipou o primeiro teste, estamos quase um mês morando na mesma casa”, conta Felipe. Segundo ele, após o fim da quarentena é quase certo que fiquem juntos de vez em Porto Alegre.
Critério
A principal questão para quem decide morar junto é avaliar quais os critérios utilizados para tomar essa decisão, segundo a psicóloga especialista em sexualidade Flávia Bertechini.
“O que eu percebo, teoricamente e na minha prática clínica, é que muitos casais, quando decidem morar juntos, simplesmente vão. E não avaliam o porquê estão escolhendo esse ‘morar juntos’. Quando não existem esses critérios muito bem definidos essa relação pode não dar certo, por conta das expectativas criadas”, diz a terapeuta de casais.
Ela explica que antes de morar junto é importante “entender como funciona cada um e quais os objetivos de cada um”. A especialista pondera que cada casal vai encontrar o seu caminho porque “nada em comportamento humano é regra”, mas alerta que tomar essa decisão em meio à pandemia pode suprir algumas necessidades, porém podem surgir conflitos diante das diferenças de estilo.
Denise Procópio, doutora em Psicologia pela PUC, avalia que a quarentena vai intensificar o tipo de relação que o casal já tinha antes. Ela orienta que é necessário um esforço adicional para definir os limites do casal e para conversar abertamente sobre a relação.