Técnico de áudio é salvo após 11 dias internado em Guarulhos

Aos 57 anos, ele foi infectado pela doença logo no inicio da pandemia no Brasil

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São Paulo

No Carnaval, o técnico de áudio João Baptista Silva, 57 anos, teve agenda cheia na capital paulista, trabalhando nos trios elétricos do centro. Após a festa de rua, viajou para Salvador (BA) para uma série de palestras com mais de mil pessoas. Nessa época, a sombra do novo coronavírus já era presente no país e os trabalhos foram cancelados.

O técnico de som João Batista Silva precisou ser internado na UTI por causa do novo coronavírus. - Arquivo pessoal

Então, voltou para São Paulo no dia 16 de março e passou a pensar no que iria fazer, já que vive desses eventos e festas. No dia seguinte, porém, foi à feira comer o tradicional pastel com caldo de cana e começou a passar muito mal à noite, com diarreia, dor de cabeça e febre.

Como pressentiu que não melhoraria, foi para a casa da namorada, Claudenise, 31, em Guarulhos (Grande SP). Lá, foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da região e o médico apenas receitou antibiótico e o mandou para casa.

“Tomei o remédio e a dor de cabeça continuou, parecia que ia explodir. Eu dormia gemendo e minha mulher até falou para eu parar de brincar de falta de ar, achando que eu estava brincando”, lembra João Baptista.

Aproveitando que a Prefeitura de Guarulhos estava fazendo testes drive-thru da Covid-19, eles foram, mas o resultado não foi o esperado. “A enfermeira só mediu a temperatura na minha testa e disse que eu não tinha nada, mas eu já estava quase morrendo.”

Sem melhorar, ele voltou à UPA e, dessa vez, acharam que ele estava com suspeita de dengue. Então, mandaram continuar tomando antibiótico. À noite, Claudenise preparou uma inalação para ele, mas, em vez de melhorar, só piorou a falta de ar.

“Um dia, passei tão mal que meu filho, William, e ela me pegaram pelo braço para me levar ao hospital, mas eu não aguentei andar, com falta de ar. Então, me levaram de carro para o Hospital Geral de Guarulhos. Se eu estivesse sozinho em casa teria morrido, porque é uma sensação de não conseguir dar um passo. Se você cair no chão não se levanta mais. Fui salvo porque os caras do hospital foram muito rápidos com o oxigênio. Parece que a gente está em outro planeta...”

João Baptista ficou internado 11 dias e não conseguia levantar nem andar sozinho ou sem o oxigênio. O médico chegou a falar que iria intubá-lo, caso não melhorasse, mas não foi necessário. “Um médico veio falar comigo sobre a cloroquina e mandou assinar um termo de responsabilidade, dizendo que havia risco de vida ao tomar o medicamento. Falei que ia assinar porque não tinha nada a perder.”

Mesmo tanto tempo após a internação, ele conta que, volta e meia, sente taquicardia, com o coração acelerado, uma das sequelas da cloroquina. Por isso, já agendou com um cardiologista para uma melhor avaliação.

Outro sintoma que só apareceu depois da alta foi a tosse seca, que durou alguns dias.

Os filhos Stefany, 31, Willian, 27, e Rafaelly, 13, além da namorada, Claudenise, não foram contaminados, mas a família de João Baptista teve mais dois casos positivos. Em São Luiz, no Maranhão, uma tia dele morreu com a doença, enquanto um primo de São Paulo se recuperou.

Como os eventos ainda não voltaram, João Baptista contou com a ajuda dos amigos para pagar as despesas quando deixou o hospital. “Um grupo de eventos com mais de 300 pessoas fez uma vaquinha para arrecadar dinheiro para me ajudar. E agora eu estou vendendo ovos nas ruas para pagar a conta de água, o aluguel, enquanto os eventos não voltam”, conta o técnico de som, lembrando das vezes em que tocou o hino nacional antes dos jogos no estádio do Pacaembu, onde agora está montado um hospital de Campanha para o tratamento da Covid.

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