Documentário relembra a atriz Natalie Wood

Longa resgata trajetória da estrela e sua morte precoce e misteriosa, há 29 anos

A atriz Natalie Wood em cena de "Clamor do Sexo", dirigido por Elia Kazan - Divulgação

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São Paulo

Natalie Wood, estrela de clássicos de Hollywood, morreu precocemente aos 43 anos em 1981. Um documentário recente resgata a carreira da atriz, que começou menina no cinema e arrebatou multidões de espectadores.

Produzido por uma das filhas da atriz, “Natalie Wood, Aquilo que Persiste” está disponível para assinantes do streaming da HBO. Muitos viram no título uma referência às especulações sobre as circunstâncias da morte da atriz.

Mas outra interpretação possível é a de que o que persiste até hoje é o talento de Natalie, nascida Natalia Nilolaevna Zacharenko, em 1938, na Califórnia.

O longa repassa a trajetória da atriz, desde sua estreia no cinema, aos 5 anos, até o estrelato em clássicos como “Juventude Transviada” e a sua morte. Não ficam de fora a vida pessoal de Natalie, seus amores e a família.

As duas filhas de Natalie, o marido, o ator Robert Wagner, o grande amor de sua vida, e amigos como Mia Farrow e Robert Redford falam sobre a atriz. O filme traz ainda depoimentos da estrela e trechos de um artigo que ela escreveu para uma revista, mas nunca foi publicado.

A parte final é reservada à noite em que Natalie morreu afogada, em 29 de novembro de 1981, quando estava no barco da família com o marido, o ator Robert Wagner, o capitão da embarcação e o ator Christopher Walken.

Entrevistado por Natasha Gregson Wagner, a filha de Natalie que produziu o filme e sua enteada, Wagner diz que já repassou aquela noite em sua mente incontáveis vezes. Era feriado e Natalie, Wagner, filhos e enteados estavam reunidos na casa da família, na Califórnia. Walken, que filmava com a atriz, era o convidado do feriado.

No filme, fica no ar que algo não ia bem. Após o jantar, o casal decidiu fazer um passeio de barco com Walken e o capitão da embarcação. Wagner conta que, em determinado momento, discutiu com Walken e chegou a quebrar uma garrafa de bebida. Natalie não estava presente, havia ido dormir.

Segundo o ator, Walken disse a ele que deixasse Natalie trabalhar, fazer o que quisesse, e Wagner se irritou (na época, a imprensa citou como motivo para a briga um possível envolvimento amoroso de Natalie com Walken, o que é descartado por amigos).

Wagner diz que acabou se acalmando e, ao ir para o quarto, não encontrou Natalie. Ela não estava no barco. A polícia foi acionada e, horas depois, o corpo de Natalie foi encontrado.

O que se seguiu, aos olhos dos familiares, foi uma cobertura agressiva da mídia, em que nem as crianças eram poupadas.

Neste sentido, o longa é uma tentativa da família de encerrar especulações sobre a morte e de uma suposta responsabilidade de Wagner. Em 2011 e em 2018, a polícia reabriu o caso, que ainda é um grande mistério de Hollywood. No filme, Walken, em entrevista antiga, diz que só Natalie sabe exatamente o que aconteceu.

Um mistério que tirou a vida da atriz e que, como diz uma crítica no documentário, privou o público que acompanhava Natalie desde criança de vê-la na pele de personagens com 50, 60, 70 anos.

ONDE VER

NATALIE WOOD, AQUILO QUE PERSISTE
HBO Pro: grátis para assinantes

Atriz estrelou clássico aos 15 anos

“Juventude Transviada”, “Amor, Sublime Amor” e “Clamor do Sexo” podem ser considerados os três principais filmes de Natalie Wood. As obras marcaram a carreira da atriz e hoje são consideradas clássicos do cinema.

Ela tinha 15 anos quando filmou “Juventude”, em que contracena com outro ícone, James Dean. Em entrevista no documentário, a atriz conta que seus pais não a queriam no longa. “Foi um filme muito importante para mim, pois até então eu só havia trabalhado como criança e só tinha feito o que me mandavam. Quando meu pai e minha mãe leram o roteiro, disseram não, pois retratava os pais de uma forma não muito agradável”, diz a atriz. “Quando li, pensei pela primeira vez na vida: ‘Preciso fazer isso’.”

Natalie conta que o diretor, Nicholas Ray, a achava nova demais para o papel de Judy, apesar de sua idade coincidir com a da personagem, pois ela ainda era associada aos papéis infantis que havia feito até então.

"Um dia, sofri um acidente de carro, e em vez de telefonar para meus pais, pedi para ligar para o diretor, pois um policial me chamou de delinquente juvenil. Ou seja, agora eu ia ganhar o papel”, diz a atriz, sobre sequência do filme em que a personagem vai parar na delegacia. O documentário faz menção a uma possível ‘relação íntima’ entre Natalie e o diretor quando a atriz era menor de idade.

“Amor, Sublime Amor”, de 1961, foi a escolha de Natalie após uma briga com a Warner. Disposta a ter controle sobre os filmes em que participaria, pois até então tinha de aceitar o que o estúdio mandava, ela decidiu fazer uma greve.

Como resultado, levou uma suspensão de 18 meses. Ao final, ficou acertado que ela poderia escolher um filme por ano. “Amor” foi o primeiro nessa condição. No longa, um “Romeu e Julieta” em Nova York, ela interpreta a porto-riquenha Maria. O curioso é que hoje Natalie, uma atriz sem ascendência latina, dificilmente seria escalada para uma de suas mais icônicas personagens.

“Clamor do Sexo” é do mesmo ano de “Amor”. Nele, Natalie trabalhou com o diretor Elia Kazan. A atriz e Warren Beatty interpretam namorados nos EUA antes da quebra da Bolsa de 1929. Apaixonados, eles têm de lidar com a repressão sexual da sociedade.

Kazan dizia que buscou tirar o verniz hollywoodiano de Natalie. Para isso, ela atuou sem muita maquiagem em todo o longa. Pelo filme, Natalie recebeu uma de suas três indicações ao Oscar —a atriz não foi premiada nenhuma vez.

Exigiu condições de contratos iguais aos dos colegas homens

Além da busca por independência dos estúdios, Natalie Wood brigou por igualdade entre mulheres e homens nos sets de filmagem.

No documentário, Natasha, uma das filhas da atriz, conta que, ao fazer “A Corrida do Século”, de Blake Edwards, em 1965, a atriz descobriu que não tinha as mesmas condições de contrato que seus parceiros no filme, os também astros Jack Lemmon e Tony Curtis.

E a personagem de Natalie no longa, Maggie, defendia as mulheres. “Ela fez de tudo para garantir que tudo fosse igual, até o comprimento dos fios de telefone nos camarins”, diz Natasha.


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AMOR, SUBLIME AMOR (1961)
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CLAMOR DO SEXO (1961)
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O ÚLTIMO CASAL CASADO (1980)
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Hanuska Bertoia

50 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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