Lotação de trens e metrô cresce em SP, e passageiros temem o coronavírus
Principal queixa é sobre a aglomeração, já que não é possível manter o distanciamento social
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A viagem de metrô de Washington Nascimento, 35, foi na base do equilíbrio: sem encostar em nada, nem nas barras de segurança. Era uma tentativa de diminuir o risco de tocar em algum objeto contaminado pelo coronavírus. Mas, ainda assim, o religioso diz que ainda fica inseguro, e o motivo é a lotação do trem. "Não dá para manter distanciamento."
Depois de alguns meses sem sair, a atendente Renata Vaz, 44, voltou a usar o metrô há pouco mais de um mês. Desde então, tem percebido o aumento de passageiros, ainda que seja em número menor que no período pré-pandemia. "Diminuiu um pouco, mas cheio sempre é." Por isso, as viagens são feitas com medo, segundo ela.
Um levantamento da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) sobre os transportes metropolitanos (Metrô e CPTM) em São Paulo comprova a impressão de Renata: a redução de passageiros que, em abril e maio, chegou perto de 80% em relação a 2019, em setembro foi de 45%.
Mensalmente, o número de passageiros transportados em trens e metrôs em São Paulo em 2019 variou entre 174,2 milhões e 210 milhões. A média era de 192,3 milhões de passageiros por mês.
Este ano, o máximo alcançado foi em fevereiro, quando 182,8 milhões de pessoas foram transportadas. Em abril, mês em que houve a maior queda, houve apenas 46 milhões de passageiros. Com isso, a média mensal de passageiros caiu 44,2% e chegou 102 milhões.
Com a diminuição do distanciamento entre as pessoas, o uso de máscara acaba se tornando menos útil, afirma o médico Renato Grinbaum, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). O ideal é que as pessoas mantenham pelo menos 1,5 metro de distância entre si para minimizar risco de contaminação com o coronavírus --situação bem diferente da realidade.
"Precisaríamos ter um sistema de transporte com maior frequência para diminuir a lotação. E as empresas deveriam fazer um escalonamento dos horários [para distribuir os passageiros]", afirma o infectologista.
Outra questão, ele cita, é que os trens são ambientes abafados, sem circulação adequada de ar. Essa é a preocupação de Rose Gimenes, 55. "O metrô é muito inseguro, em todo horário está cheio, devia ter mais trens. E não sabemos como está a limpeza do ar condicionado. Aparentemente a limpeza dos ambientes está boa, mas o problema é o que a gente não enxerga."
Passageiros transportados em trens e metrô - em milhões
Mês | 2019 | 2020 |
Janeiro | 174,2 | 182,3 |
Fevereiro | 185,9 | 182,8 |
Março | 196,7 | 136,7 |
Abril | 205,1 | 46 |
Maio | 210 | 50,5 |
Junho | 182,3 | 56,3 |
Julho | 189,4 | 84,1 |
Agosto | 208,4 | 90 |
Setembro | 178,4 | 96,7 |
Parcela da população que utiliza cada meio de transporte
Meio | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 |
ônibus | 47% | 43 % | 47 % | 35 % |
carro | 22% | 24 % | 20 % | 25 % |
a pé | 8% | 7 % | 6 % | 15 % |
metrô | 13% | 12 % | 12 % | 8 % |
transporte por aplicativo | 2% | 5 % | 5 % | 6 % |
trem | 4 % | 3 % | 4 % | 2 % |
outros | 4 % | 6 % | 6 % | 9 % |
RESPOSTA
Por nota, a STM (Secretaria dos Transporte Metropolitanos), responsável pela gestão da CPTM e do Metrô, afirma que todas as linhas estão com "operação monitorada" desde o início da quarentena, com avaliação constante da ocupação.
"Quando constatada a necessidade de mais trens nas linhas da CPTM e do Metrô, eles são imediatamente injetados para buscar evitar aglomerações", afirma o texto. O órgão, contudo, não especificou qual o tamanho da frota em circulação atualmente, afirmou apenas que, em "algumas linhas", a oferta chega a 100% no horário de pico.
Segundo a STM, foram intensificadas as medidas de higienização dos veículos e estações: foram ampliados a frequência de limpeza de assentos, pisos, corrimãos e maçanetas, além de banheiros, com álcool 70% ou solução de água sanitária. Sobre o sistema de ar, a STM afirma que tanto a CPTM quanto o Metrô realizam a manutenção e limpeza dos sistemas de ar condicionado a cada 30 dias.
Aumento de demanda é sentido também nos ônibus municipais
No mesmo caminho dos transportes sobre trilhos, o movimento da ocupação de ônibus na capital também voltou a crescer desde junho, segundo a SPTrans, empresa municipal que gerencia a operação da frota. A ocupação em setembro, entretanto, foi 43,2% menor que no mesmo mês de 2019.
Em abril de 2020, mês em que o sistema teve a maior queda no movimento, foram transportados cerca de 69,1 milhões de passageiros. Um ano antes, foram 227,6 milhões. A queda foi de quase 70%.
Este ano, a média de passageiros nos ônibus de São Paulo é de 127,6 milhões de passageiros por mês. No ano passado, era de 219,8 milhões. Isso representa uma queda de quase 42% na média do movimento.
Segundo a empresa, mesmo com a quarentena, a frota que circula nas ruas permanece superior à demanda. Atualmente, o transporte coletivo municipal opera com 11.223 ônibus, o que representa 87,58% do que estava nas ruas no mesmo período do ano passado.
Sobre a adoção de protocolos sanitários, a SPTrans afirma que reforçou higienização de veículos e terminais, inclusive entre as viagens, além de estabelecer a obrigatoriedade do uso de máscara no interior dos ônibus tanto para passageiros quanto para motoristas e cobradores.
Com a pandemia, paulistano prefere usar transportes individuais
Um dos fatores que pode explicar a permanência da queda do uso do sistema de transporte público coletivo é a escolha por meios individuais, indica uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo realizada em setembro.
O modo de deslocamento que teve maior crescimento foi a pé. Segundo a pesquisa, 15% dos paulistanos preferem andar entre os destinos. No ano passado, essa parcela era de apenas 6%. O uso de carro também aumentou: de 20% no ano passado para 25% em 2020.
A queda na escolha de transporte coletivo, de acordo com o resultado da pesquisa, aconteceu principalmente nos ônibus, ainda que esse permaneça como o principal meio de transporte do paulistano. Em 2019, 47% das pessoas usavam esse meio, e essa parcela agora é de 35%. Já o uso de metrô caiu de 12% para 8%, e o de trem, de 4% para 2%.