Saúde e educação devem ser as prioridades, afirmam os idosos

Eleitores com mais de 60 anos ouvidos pelo Datafolha apontam os gargalos que prefeito deve resolver

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São Paulo

Para atender os anseios dos idosos paulistanos, o prefeito que assumir o mandato em 2021 terá que dar especial atenção a hospitais, escolas públicas e à moradia popular. Segundo pesquisa Datafolha, essas são as três áreas que, para as pessoas com 60 anos ou mais, devem ser prioridade nos próximos quatro anos.

"É um Deus nos acuda'", afirma Inez Ramos, 71, sobre a busca de atendimento médico na rede pública. Ela, que já teve câncer de mama, precisa de atendimentos constantes, mas diz que é sempre complicado conseguir vagas para as consultas.

Pesquisa população com 60 anos ou mais - arte agora


Na pesquisa, 53% dos idosos afirmaram que a prioridade do novo prefeito deve ser os hospitais. Em seguida, vêm escolas públicas (52%), postos e unidades de saúde (34%) --aumentando a evidência da área da saúde para essa população--, moradia popular (32%) e transporte público (25%).

O levantamento foi feito entre os dias 20 e 21 de outubro com 1.204 eleitores, dos quais 22% tinham 60 anos ou mais, e inscrita no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) com o número SP-02125/2020. A margem de erro é de seis pontos percentuais para mais ou para menos nos resultados do segmento de 60 anos ou mais.

Os serviços e políticas voltados para a população idosa existem, afirma Marly Feitosa, 74, presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso, mas eles não acompanham a velocidade e o volume do envelhecimento da população. "Eles não dão conta de atender, é necessário ampliar, porque, na maioria das vezes, não temos como acessar."A noção de que o envelhecimento está intimamente ligado à doença é um fator que contribui para essa demanda dos entrevistados, afirma Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira Geriatria Gerontologia. E, este ano, com a Covid-19, isso pode ter ficado ainda mais forte.

A aposentada, Inez Ramos, 71 anos, já teve câncer de mama, precisa de atendimentos constantes, mas diz que é sempre complicado conseguir vagas para as consultas - Ronny Santos/Folhapress

"Precisa é valorizar mais a atenção primária à saúde. Falta também treinar os profissionais em relação ao envelhecimento humano, porque muitos profissionais ainda chegam com vários preconceitos em relação aos cuidados com a população idosa", afirma. Para a defensora pública Renata Flores Tibyriçá, coordenadora do Núcleo da Pessoa Idosa, o foco dos idosos também com escolas demonstra que, além de si, eles se preocupam com o futuro de filhos e netos: querem que tenham acesso à educação de qualidade.

"A gente tem muita dificuldade na implementação de políticas públicas relacionadas a direitos sociais básicos. As pessoas não conseguem sequer pensar em outros direitos que também são assegurados, como lazer e cultura, porque esses direitos que são mais básicos e têm a ver com a própria vida não estão sendo efetivados", diz Renata.​

Para Hilda Amâncio, 76, há "muita coisa" a melhorar, mas ela também faz coro à maioria: "A saúde está Para Hilda Amâncio, 76 anos, ainda há "muita coisa" que precisa melhorar em São Paulo, mas ela também faz coro à maioria dos entrevistados pelo Datafolha: "A saúde está péssima."


A sobrinha dela, Vanda Sueli Cardoso, 66, aguarda por uma cirurgia no quadril há mais de um ano. "São Paulo não é uma cidade boa para os idosos."


"Vamos ao posto [de saúde] e esperamos muito tempo. Remédio, quando a gente precisa, não tem. Saúde e educação são os piores", diz Claudete Landuci, 78. Ela diz, ainda, sentir falta do tempo em que andava na rua sem ter medo e de quando o salário rendia para mais que as necessidades básicas

José Antonio Cordero, 80 anos, tem vontade de se mudar para Franca, no interior de SP, pois viver na capital é "estar no olho de um furacão - Ronny Santos/Folhapress

Sair de São Paulo é o desejo de 43% dos idosos

A pesquisa Datafolha apontou que 43% dos idosos têm vontade de se mudar da capital para outra cidade. José Antonio Cordero, 80, é um deles: se não fossem os filhos e netos, já teria se mudado para Franca (400 km da capital).


"Uma pessoa que tem 80 anos, como eu, tem dificuldade com a correria da cidade. Morar aqui é estar no olho do furacão", ele diz. A presidente do Conselho do Idoso, Marly Feitosa, é enfática: São Paulo não é uma cidade boa para idosos. "Eu mesma penso em sair." Além da dificuldade de acesso aos serviços, ela diz, há ainda a falta de sensibilidade da população em geral, o que torna as atividades do dia a dia, como usar o transporte público, mais complicadas.


Hilda Amâncio, 76, tem planos certos: vai para Joinville, no norte de Santa Catarina, onde já moram dois filhos. "Quero um lugar mais tranquilo para morar." "Para mim, São Paulo acabou. Vontade de sair eu tenho, mas cuido dos meus netos, e isso me segura", afirma Emílio Carlos Freitas, 76. A vontade, diz, é voltar para Lins (431 km de SP).

Lazer

Apenas 4% dos idosos ouvidos pela pesquisa indicaram "opções de cultura e lazer" como uma prioridade para o próximo prefeito durante o seu mandato.

"O idoso quer e precisa se divertir e aprender coisas novas. Esse é o momento de viver a vida, mas, por desconhecimento dos princípios que regem sua situação como cidadão, ele vê essa questão como algo subestimado", afirma Viviane Lopes, psicóloga e coordenadora técnica operacional da Associação Brasileira de Apoio à Terceira Idade. (MF)

Município é certificado com 'Selo Amigo do Idoso'

A capital paulista é a quinta cidade do estado a receber o Selo Amigo do Idoso, certificação criada pelo governo estadual em 2012, na categoria pleno. Por nota, a administração diz que a conquista reconhece o desenvolvimento de políticas de apoio e valorização dessa parcela da população.

"A cidade atingiu os critérios para elevar sua classificação com a qualificação e aumento da complexidade das políticas implementadas nos últimos dois anos", diz o texto. Entre elas, estão a criação do Fundo Municipal do Idoso e a articulação com secretarias.

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