Araraquara tem ruas vazias e limite de compras em mercado
Moradores do município do interior paulista só podem sair para serviços essenciais, após confirmação de variante
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Após o início da implantação de lockdown, na segunda-feira (15), as ruas de Araraquara (273 km de SP) estavam vazias nesta terça. O que se viu foram blitze controlando a circulação de moradores, que, em sua maioria, saíram de casa apenas para ir a estabelecimentos de serviços essenciais.
O decreto que implantou o lockdown foi assinado pelo prefeito Edinho Silva (PT) após a confirmação de novas cepas do coronavírus na cidade. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, da gestão João Doria (PSDB), até esta segunda-feira havia a confirmação de 12 casos autóctones da variante do Amazonas, considerada mais transmissível. Araraquara já estava na fase vermelha do Plano São Paulo.
Apenas serviços essenciais (padarias, farmácias, mercados) podem funcionar na cidade, até as 20h. O decreto permite a circulação de pessoas que precisem comprar ou trabalhar nestes locais. Quem descumprir as regras pode ser multado.
O sistema público de saúde entrou em colapso. Na manhã desta terça havia fila de pacientes por leitos de internação.
Um supermercado na região central, ao lado da igreja Matriz, estava limitando em três unidades a compra de arroz e a três caixas de leite, com 12 unidades cada. Este tipo de restrição também ocorreu no início da pandemia, em março do ano passado. Mas não havia fila nesta terça, como no fim de semana, quando as pessoas foram atrás de estocar comida e produtos.
A vendedora Maria Aparecida de Jesus, 52 anos, está sem fonte de renda, durante o lockdown, pois não pode vender títulos de capitalização em comércios. Por causa disso, ela resolveu comercializar balas no centro da cidade. Até por volta das 15h20 desta terça, havia lucrado somente R$ 4 com a rua vazia. "Hoje não vai dar nem para comprar almoço. Meus dois cachorros já estão sem ração e meu marido [71 anos] está em casa, pois vive de bico e com isso [lockdown] também está sem conseguir ganhar nosso dinheirinho”, afirmou.
A estudante Jaqueline Pigatto, 26, e seu namorado, o vendedor de bebidas João Paulo Benedito, 21, voltavam de uma farmácia, no centro de Araraquara, no fim da manhã. Ambos procuravam um restaurante, onde iriam comprar almoço no sistema drive-thru, único permitido na cidade, além de entregas.
Eles concordam com o lockdown, mas não creem que a medida irá diminuir as infecções. "As pessoas não têm consciência. Muita gente está viajando neste Carnaval e elas podem voltar trazendo o coronavírus."
O namorado dela acrescentou que somente uma medida ainda mais radical, como o bloqueio de acessos ao município, poderia eventualmente impedir a entrada de pessoas infectadas na cidade. “Ninguém entra e ninguém sai, por um tempo. Isso, em minha opinião, poderia ajudar a diminuir as contaminações”, afirmou.
Um porteiro de 22 anos aguardava sentado em um banco, por volta das 13h, em uma calçada do Parque Infantil, região central de Araraquara, um possível chamado para que ele fizesse alguma entrega, por meio de um aplicativo para o qual presta serviços.
Ele resolveu trabalhar como entregador, há cerca de seis meses, para complementar a renda e também para ter uma garantia de financeira durante a pandemia.
O acesso à praça da região central está proibido. Porém, o entorno do local é usado como ponto de espera de entregadores de aplicativos. “Aqui no centro sempre pedem alguma coisa. Desde ontem [segunda] o que está mais sendo pedido é entrega de comida”, afirmou.
“Parece que estou vendendo drogas”
Há 30 anos que o comerciante Eduardo Salim Haddad, 57, vende comida árabe no centro de Araraquara. Porém, desde que começou o lockdown, ele afirma “se sentir um traficante”. “Parece que estou vendendo drogas. Tenho que deixar a porta do restaurante entreaberta e, quando vem cliente, anotar o que ele quer e entregar rapidinho para a pessoa não ficar parada por aqui.”
Por causa da experiência no ramo, ele disse ainda ter “um alfabeto de planos” para garantir a continuidade de seu comércio. “Mas tem muita gente que fechou, ou que vai fechar e prejudicar a economia da cidade.”
Antonio Deliza Netto, presidente do Sincomercio (Sindicato do Comércio Varejista de Araraquara), afirmou que cerca de 30% da mão de obra do município vão ficar em casa durante os 15 dias de lockdown. “Isso vai deixar a cidade na iminência de uma crise social.”
Ele reconhece a gravidade em que o sistema de saúde do município se encontra, porém, acredita que outras medidas podem ser adotadas para evitar infecções pelo novo coronavírus. “A situação do varejo está desesperadora. Seguimos todos os protocolos sanitários e o surto de infecções não vai parar com os comércios fechados. Muitos empregos serão perdidos com isso”, afirmou.
Fiscalização
Para controlar o movimento de pessoas pelas ruas, a Prefeitura de Araraquara realiza blitze em pontos estratégicos.
"Se passarem dez carros, abordados os dez. Ninguém passa sem deixar os dados conosco e justificar o motivo de estar circulando", afirmou Gilson José Bessegatto, gerente de programa da Secretaria Municipal da Segurança Pública.
Segundo a prefeitura, até esta terça, foram aplicadas 37 multas, valores não informados, por descumprimento de medidas sanitárias na cidade. Pessoas que descumprirem o lockdown podem ser autuadas entre R$ 120 a até R$ 6 mil.
Bessegatto afirmou que 21 ônibus fretados que levavam trabalhadores para uma empresa foram multados por descumprirem o limite de 30% de passageiros. "Fixamos multa de R$ 120 por veículo [totalizando R$ 2.520]."
O agente acrescentou que todos veículos abordados nas blitzes são registrados no banco de dados da GCM.
Após isso, radares eletrônicos monitoram o tráfego na cidade e caso um carro ou moto for flagrado circulando, longe de locais indicados durante as abordagens, podem ser autuados.