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Voltaire de Souza

Medo. Perigo. Desorganização.
Dia de reunião na empresa Ter​minal Transportes.
—Mais uma carga de vacinas?
—Pertinho. Sai do aeroporto e vai para Arujá.
—Não sei não…
O gerente Aparício coçou a cabeça.
—Muito assalto, pessoal.
O roubo do imunizante se torna rotina.
—Não quero ninguém arriscando a vida.
O ex-coronel Bilu fazia o planejamento de segurança.
—Isto não é trabalho para maricas.
Ele suspirou.
—Se desse para comprar mais armas…
Aparício concordava.
—Pela vacina, eu passaria fogo em muita gente.
Bilu fez cara feia.
—Essa vacina é uma farsa, pô.
Um tapa na mesa.
—O que importa é o dever.
Aparício mudou de assunto.
—E a gasolina subiu de novo.
—Conversa. O presidente vai cuidar disso.
Aparício já estava se irritando.
—Bom. Então, coronel, o senhor mesmo faz a entrega desta vez.
Noite chuvosa. Na van, Bilu consultava o celular.
—Viro à direita…
O forte impacto de cinco carros atingiu o seu veículo.
Racha em Guarulhos. Ampolas de vacina ficaram disponíveis aos interessados. Na UTI, Bilu ora em silêncio.
Fé em Deus é sempre bom.
Mas o pé na tábua nem sempre ajuda.

Profissional de saúde prepara aplicação da vacina contra a Covid-19 no posto drive-thru da praça Charles Muller, no Pacaembu, zona oeste de São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress