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Enfermeira escreve poesia para pacientes no interior paulista

Baiana de Várzea da Roça publicou livro com textos que fez na Santa Casa de São Carlos (SP)

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São Paulo

Entre paredes frias e pedidos de silêncio, hospitais escancaram o drama de pessoas que lutam pela cura e pela sobrevivência. Os batimentos cardíacos, a pressão, o oxigênio, os remédios, tudo isso é controlado. Mas existe poesia que escapa entre bips das máquinas e barulho metálico de bandejas de inox, e é com ela que a enfermeira Roziele Oliveira, 27 anos, tenta tocar os pacientes da Santa Casa de São Carlos (234 km de SP).

A enfermeira Roziele Oliveira, 27 anos, que escreve poesias para seus pacientes na Santa Casa de São Carlos (SP). - Arquivo pessoal

Nos últimos três anos, Roziele já fez mais de 200 poesias para quem teve o privilégio de receber os seus cuidados. Parte está reunida no livro “Poesia no Hospital”, lançado pela enfermeira que trocou há quase quatro anos Várzea da Roça (BA) pela cidade paulista.

A primeira poesia feita especificamente para uma paciente chegou também ao coração do acompanhante. O marido da mulher internada, que chorou de emoção. “É uma forma de cuidar da pessoa de maneira profunda. Ninguém espera ganhar uma poesia. Quando entrego, é algo sublime”, diz.

No último ano, Roziele também atendeu pacientes do setor de Covid-19, mas hoje está no bloco cirúrgico. Da pandemia, tem a tristeza por recolher para si os abraços que não pode dar e o sorriso encobertos que não pode oferecer. “Sempre fui muito afetuosa. Todo esse distanciamento social trouxe tristeza”, diz.

Mas a baiana não se entrega. Conta que, em casa, o marido diz que não conhece outra pessoa que goste tanto do trabalho quanto ela. “Acredito que a gente possa oferecer muito mais para o paciente. Não é só dar um banho ou fazer uma troca a mais. Envolver, parar ali, escutar os problemas e oferecer esperança, uma poesia.”

É justamente sobre esperança, motivação e felicidade que a enfermeira poeta desenha o caminho de pacientes após a alta. “Quando escrevo, também sou cuidada e revigorada. Não é da boca para fora.”

Cuidado muda 'astral' de professora

A professora aposentada Vanda Aparecida Diagonel, 55 anos, passou dez dias internada na Santa Casa de São Carlos depois de uma queda. Chegou desconfiada do tratamento que receberia, mas tudo mudou quando recebeu da enfermeira Roziele Oliveira o primeiro atendimento. “Hoje, se precisar ser internada, não vou ficar desesperada. Não teria nenhuma preocupação em deixar um familiar meu lá. E foi tudo pelo SUS”, diz.

A atenção veio acompanhada da poesia no momento da alta. “Ela leu e eu não aguentei. As outras pessoas também ficaram emocionadas”, conta.

A dona de casa Junia Silva Pereira, 43, soube que tinha ganhado uma poesia três dias após a alta de uma cirurgia. Ainda estava passando por um momento frágil e a impressão é de que já a conhecia havia muito tempo”, diz. “Receber carinho de alguém que se viu poucas vezes é uma cura.”

Não só pacientes elogiam a enfermeira poeta. “Ela tem esse lado de menina de feliz, sorriso no rosto”, conta a coordenadora de enfermagem do hospital, Márcia Cristina Bianchini Pedroso, 52. “Além de trazer a capacidade técnica, ela tem a visão do bem estar, da humanização mesmo”, diz.

Superação

A dor, a angústia, o medo.
A incerteza do que poderia acontecer.
A tristeza de não ter certeza;
De tudo, ou de nada.
Esperar...
Dias melhores,
Exames melhores,
Notícias melhores.
Acreditar...
Que a dor vai passar,
Que a esperança novamente brilhará,
Que uma saída será vista,
Que o sol vai brilhar mais intenso e belo.
Ter fé...
Acreditar que Deus está guiando, guardando, conduzindo.
Por fim...
Superação para a nova fase,
Nova realidade.
Para viver dia a dia
E ter novamente a felicidade!

(Roziele Oliveira)

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