Lideranças religiosas divergem sobre funcionamento de igrejas
Na fase mais crítica da pandemia, templos podem abrir no estado, mas sem realizar cerimônias
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O funcionamento de igrejas durante a pandemia divide opiniões entre líderes de diferentes religiões. Enquanto alguns defendem a abertura dos templos, outros consideram que a paralisação das atividades presenciais seria importante para conter o coronavírus.
Na última quinta-feira (11), o governador João Doria (PSDB) anunciou novas regras para o funcionamento das igrejas durante a chamada fase emergencial do Plano São Paulo, prevista para vigorar até o dia 30 de março.
Durante esse período, os templos poderão ficar abertos para visitação de fiéis, mas ficam proibidos de realizar atividades coletivas, como missas e cultos.Na Igreja Católica, não houve orientação para fechamento das paróquias da capital.
"O que se fez em virtude da fase vermelha não foi pedir para as igrejas fecharem, e sim que tivesse maior rigidez nos protocolos. Não é que a Igreja está criando regras, está apenas obedecendo o decreto", afirmou o padre José Ferreira Filho, da Arquidiocese de São Paulo.
O sheik Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da União Nacional Islâmica, é favorável à manutenção do funcionamento dos templos durante a pandemia de Covid-19. "As mesquitas estão fazendo o trabalho de dar conforto e esperança às pessoas, de ajudá-las a se manter firmes durante esse momento", disse Hammadeh.
Algumas das grandes igrejas evangélicas também mantiveram portas abertas durante a fase vermelha seguindo decreto assinado no começo do mês .Por outro lado, o pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista de Água Branca, suspendeu as atividades presenciais desde março do ano passado, quando começou a pandemia.
"A igreja, como comunidade a serviço da sociedade, é essencial, mas o culto não é essencial. Da mesma forma que a família é essencial, mas o almoço de domingo não é essencial", comentou.
O pastor Ricardo Gondim, presidente nacional da Igreja Betesda, também manteve as portas fechadas desde o início da pandemia. "Na Bíblia está escrito: 'tudo me é permitido, mas nem tudo convém'. Nós, cristãos, temos que seguir não apenas a letra da lei, mas aquilo que o bom senso exige", avalia.
Doença matou 65 padres em todo o país
Levantamento feito pela CNBB (Confederação Nacional de Bispos do Brasil) revela que, até o início deste mês, 1.455 padres da Igreja Católica foram acometidos pela Covid-19 em todo o país. Destes, 65 morreram em decorrência da doença.
A confederação diz as regiões que tiveram maior quantidade de mortes foram a Leste 1 (Rio de Janeiro) e a Norte 2, que corresponde aos estados do Pará e do Amapá. Cada uma delas registrou 12 óbitos. Em São Paulo, foram 168 casos e 7 mortes.
A CNBB informa que a doença também matou quatro bispos no Brasil. O caso mais recente foi o do arcebispo de Cascavel (PR), dom Mauro Aparecido dos Santos. Ele estava internado desde o dia 16 de fevereiro e, por conta dos sintomas, precisou ser intubado.
Fiéis avaliam que templos ajudam a trazer esperança
Mesmo com o país atravessando o pior momento da pandemia de Covid-19, fiéis defendem o funcionamento das igrejas. Para eles, a abertura dos templos serve como apoio à população neste momento de crise sanitária."
A igreja é essencial, pois aqui recebemos uma mensagem de esperança que nos encoraja a seguir em frente", comenta a dona de casa Adnalva Araújo, 46 anos, que diz participar toda semana das missas na igreja de São Judas Tadeu, na zona sul da capital paulista."
O que importa é a celebração com consciência. A igreja é um refúgio. Aqui temos o apoio e a força em Jesus Cristo", diz a psicóloga Anabela de Lucca, 61 anos .O aposentado Vladimir Vairo, 67 anos, diz que, mesmo com a gravidade da pandemia, se sente seguro na igreja.
"Os protocolos estão sendo seguidos, o que não acontece, por exemplo, no transporte público", diz. Ele também defende o funcionamento dos templos. "Muita gente está com depressão e precisando de um apoio", acrescenta.
A reportagem do Agora acompanhou uma missa na igreja de São Judas na semana passada e constatou que os protocolos contra a doença estavam sendo seguidos. As cerca de 40 pessoas no local estavam distantes umas das outras. Na porta havia álcool em gel e um funcionário media a temperatura dos visitantes.