Parte do comércio de São Paulo desrespeita regras no primeiro dia da fase vermelha
Lojas de roupa e salões de beleza, por exemplo, devem estar fechados devido às regras mais restritivas
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No primeiro dia do retorno da fase vermelha em todo o estado de São Paulo, parte do comércio da capital não seguiu as regras da fase mais restritiva da quarentena imposta pelo governo do estado. A partir deste sábado (6) e até o dia 19, numa tentativa de conter o aumento dos casos e mortes por Covid-19, somente serviços essenciais estão liberados para funcionar. Porém, em pelo menos duas regiões da cidade há casos de desrespeito às medidas.
A reportagem do Agora esteve, na manhã de sábado, na rua 25 de Março (região central) e na avenida Mateo Bei (zona leste). No centro, a maior parte do comércio de rua estava fechada, mas ainda havia estabelecimentos abertos e "puxadores" pelas ruas — profissionais que ficam na calçada chamando clientes para lojas menores.
Outros locais, como lojas ou galerias de boxes, operavam com as portas baixas ou fechadas, mas permitindo a entrada de clientes, o que gerava aglomeração nas calçadas. Apesar da tentativa de disfarçar o movimento, a situação era clara. Havia policiamento em vários pontos da rua 25 de Março, mas nenhuma abordagem ou fiscalização foi presenciada.
A auxiliar de vendas Daniela Souza, 40, foi ao centro para fazer compras no dia de folga. Ela diz que achava que a quarentena rígida só teria início no domingo (7), por isso foi à 25 de Março. Como parte das lojas estava aberta, conseguiu resolver o que precisava. "É muito fácil, para mim, dizer que concordo com a quarentena, porque eu tenho emprego garantido, mas e quem não tem?". Daniela trabalha em uma loja de material médico, categoria liberada na fase vermelha.
"Eu concordo com a quarentena, e acho até que tem que ser mais rígida. Essa situação arrisca a minha vida e a dos outros, mas ficar em casa não dá. Se eu ficar, não tenho como comer e pagar as contas, por isso tenho que vir para a rua", diz o motorista desempregado Milton Alves Júnior, 58. Para garantir o sustento, passou a trabalhar como puxador, mas diz que toma as medidas necessárias para prevenir a Covid-19, como usar a máscara sempre.
Já na avenida Mateo Bei, o movimento do comércio era bem mais explícito. Por lá, os estabelecimentos estavam com funcionamento normal: lojas de roupas e sapatos recebendo clientes, salões de beleza atendendo, lanchonete com consumidores.
Enquanto esteve no local, a equipe do Agora foi abordada algumas vezes com hostilidade por funcionários de lojas, e um deles até ameaçou agredir fisicamente o fotógrafo. Em toda a extensão da avenida não foi avistado nenhum agente de fiscalização.
"Eu sou a favor de ficar aberto", afirma o manobrista João Evangelista, 59. Apesar dos recordes consecutivos de mortes pela doença, ele avalia que o fechamento do comércio apenas complicaria mais a situação. "Não tenho medo. Estou me prevenindo do jeito que dá, mas não adianta ter medo."
A balconista Lucia Dias, 31, aproveitou a manhã de sábado para comprar itens de casa numa das lojas da avenida. Ela diz que concorda com a quarentena, mas que precisou fazer a compra. "O problema é que tem muita gente na rua sem fazer nada. As pessoas têm que ter consciência. Eu tenho medo, mas precisei sair."
Respostas
A Prefeitura de São Paulo afirma, por nota, que segue as regras do Plano São Paulo e que agentes municipais apoiam a fiscalização do governo do estado. "A prefeitura esclarece que a atribuição legal para fazer a fiscalização das definições estabelecidas pelo decreto estadual é da polícia", diz o texto.
A Polícia Militar também diz que realiza ações de fiscalização para evitar aglomerações junto com as Vigilâncias Sanitárias e agentes de fiscalização dos municípios.
Já a nota da Secretaria Estadual da Saúde afirma que o trabalho de fiscalização das regras do Plano São Paulo foi intensificado desde sexta (5). "A restrição de circulação se aplica a qualquer atividade não essencial e qualquer aglomeração em espaços coletivos, como estabelecimentos comerciais, bares, baladas, restaurantes, dentro dos critérios já estabelecidos pelo Plano São Paulo."
Nenhum dos três órgãos, contudo, respondeu às perguntas da reportagem sobre a fiscalização na rua 25 de Março e na avenida Mateo Bei.