Polícia prende 28 por suspeita de tráfico no aeroporto de Guarulhos
Funcionários terceirizados seriam aliciados por traficantes para embarcar ilegalmente bagagens com drogas para Europa e África
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A Polícia Federal prendeu 28 funcionários de empresas terceirizadas que operam no Aeroporto Internacional de Guarulhos (Grande SP), suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em embarcar ilegalmente bagagens com cocaína para países da Europa e da África. As detenções ocorreram na manhã desta terça-feira (18), em cumprimento a mandados de prisão temporária e preventiva expedidos pela Justiça.
Marcelo Ivo de Carvalho, delegado regional da PF de investigação e combate ao crime organizado em São Paulo, explicou que os suspeitos presos facilitaram a introdução de drogas em aviões, principalmente com destino a Portugal, Holanda, Alemanha e África do Sul.
A investigação da PF identificou, desde novembro de 2019, que o bando realizou ao menos 20 despachos de bagagens com cocaína, a partir do aeroporto da Grande São Paulo. "Funcionários [terceirizados] do aeroporto usavam seus conhecimentos [sobre a logística do local] com o objetivo de burlar a fiscalização feita pela polícia e pelos operadores aeroportuário, para mandar drogas para fora do país", explicou.
Para isso, acrescentou o policial, os suspeitos eram “muito bem remunerados”. Conforme apontou a investigação, houve casos em que os pagamentos chegaram a R$ 500 mil. “Essa atividade é muito bem paga, pois é importante para a cadeia logística do tráfico”, explicou.
Por concentrar cerca de 60% dos voos internacionais do país, de acordo com a polícia, no aeroporto de Guarulhos são usadas diversas metodologias para embarcar drogas para outros países.
O delegado de Polícia Federal Felipe Faé Lavareda, que também investiga a quadrilha, ilustrou algumas das táticas usadas pelos criminosos para despachar cocaína para o exterior.
Por causa da pandemia da Covid-19, o fluxo no aeroporto caiu, deixando alguns guichês vazios em determinados momentos do dia. Por isso, os suspeitos se caracterizavam como funcionários de companhias aéreas e, em locais menos movimentados, segundo o delegado, entravam nos balcões de atendimento, onde recebiam a bagagem com a droga e a colocavam na esteira, para serem interceptadas posteriormente por comparsas, na parte restrita a funcionários.
Imagens divulgadas pela PF mostram um integrante da quadrilha retirando uma bagagem com drogas da esteira. “Em alguns casos, os suspeitos preenchiam uma etiqueta a mão, para embarcar a bagagem. Em outros casos, retiravam a etiqueta de uma bagagem regular e a colocavam em uma com a droga”, afirmou o delegado Lavareda. Com essa metodologia, os criminosos evitavam que as bagagens fossem submetidas ao raio-x.
A polícia também identificou que parte do bando chegou a ir ao aeroporto acompanhada de uma criança, para não levantar suspeitas.
Segundo imagens de câmeras de monitoramento, uma funcionária pega a bagagem, trazida pelos suspeitos acompanhados da criança e, rapidamente, a leva para as esteiras de embarque, sem que a mala seja vistoriada. De acordo com a investigação, as duas bagagens eram embarcadas e o dono da verdadeira poderia ter problemas para identificar sua mala na chegada.
“A ação deles era muito rápida. Do momento em que chegavam ao aeroporto, até a bagagem ser embarcada, demorava entre dez e 15 minutos”, acrescentou Lavareda.
De novembro de 2019, até abril deste ano, a PF conseguiu interceptar e apreender cerca de 1,5 tonelada de cocaína dentro de bagagens no aeroporto. A instituição disse ainda contar conta com a colaboração das polícias dos países para onde a droga é despachada e, também, com a Polícia Civil do aeroporto de Guarulhos.
Dois carros usados pelo bando, incluindo um táxi, para deixar a droga no aeroporto, foram identificados durante as investigações.
Na operação realizada nesta terça-feira, além dos 28 presos, a PF também cumpriu 53 mandados de busca e apreensão, durante os quais apreendeu cerca de R$ 200 mil e identificou que parte dos suspeitos conta com um patrimônio acima do esperado.
Segundo o delegado Marcelo Ivo, a média salarial dos suspeitos é de R$ 1.500. Somente um deles, por exemplo, é dono de uma frota de 19 veículos, alugados para terceiros trabalharem como motoristas de aplicativo. Também foram identificados casos em que uma dessas pessoas teria seis imóveis em seu nome.
A próxima etapa da investigação, segundo a PF, será feita justamente para identificar o patrimônio adquirido pelos suspeitos com o esquema.
Todos os presos responderão pelos crimes de tráfico e associação ao tráfico internacional de drogas.
Resposta
A GRU Airport, que administra o aeroporto de Guarulhos, afirmou em nota que o caso "é inteiramente conduzido pelas autoridades competentes", acrescentando "estar à disposição para fornecer as informações requeridas."
A nota da concessionária acrescentou ainda que os suspeitos, identificados na investigação, "não eram funcionários do aeroporto" mas de "empresas terceirizadas."