Voltaire de Souza: As letras do sangue
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
História. Herança. Curiosidade.
São os testes de DNA.
Sílvia Lúcia estava interessada.
—Será que assim eu consigo passaporte italiano?
Cabelos louros. Olhos esverdeados. Pele cor de pêssego.
—Sou bem europeia.
A avó dela se chamava Dona Mindinha.
—Hum. Bela novidade.
—Mas a gente não tem sobrenome italiano.
—Graças a Deus, Sílvia Lúcia.
Dona Mindinha se orgulhava das suas tradições paulistas.
—Família Duarte de Assumpção.
Ela insistia no detalhe.
—Com p.
—Certo, vovó.
—P de paulista.
No dia seguinte, Sílvia Lúcia voltou com o kit.
—Quer fazer o teste de DNA também, vovó?
—Nunca. Ora essa. Verdadeiro absurdo.
—Mas, vovó.
—Saia imediatamente da minha sala.
Rubis e ametistas faiscavam no dedo trêmulo da idosa.
Sílvia Lúcia fez o teste no quarto.
O resultado foi surpreendente.
Herança africana: 60 por cento.
—Árabe. Judaica. Até sangue japonês, diz aqui…
Sílvia Lúcia foi com cuidado para perto da avó.
—O teste confirmou, vovó… Deu a letra P.
A anciã morreu de Covid sem saber do resultado exato.
A ciência não mente.
Mas alguns brasileiros nem sempre estão preparados para os fatos.