Voltaire de Souza: Convidado de honra
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Frio. Inverno. Massa polar.
A cidade gela.
Em Marsillac, recorde negativo.
Três graus. Negativos.
Tenório estava otimista.
—Pelo menos está fazendo sol.
Esportes ao ar livre sempre fazem bem à saúde.
—Não sou de ficar em casa vendo Olimpíadas.
Ele ia contando as latas de cerveja.
—E um churrasco depois.
O vírus continua solto.
—Muita lorota com essa pandemia.
Os amigos eram da mesma opinião.
—O jogo vai ser quente.
Milicianos contra evangélicos.
—Só não entra polícia.
Ele tinha medo de proibirem a reunião.
A espetacular morena Gilvanka estava na parada.
—Mascote do meu time.
O jogo corria animado.
Foi só depois das cervejas que Tenório reparou.
—Cadê a Gilvanka? E que fumaceira é essa?
Parecia incêndio no telhado da churrasqueira.
A fumaça tóxica fez Tenório perder os sentidos.
Ele acordou com uma mão de pedra segurando o seu pescoço.
Barba preta. Botas. Chapelão.
—Borba Gato?
A estátua surgia entre as chamas.
—Por que não me convidaste para o churrasco?
A falta de ar levou Tenório à UTI.
Covid positivo.
O vírus não se enxerga.
Mas, por vezes, é o maior penetra.