Voltaire de Souza: O lado humano

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Voltaire de Souza

Pobreza. Dificuldades. Desespero.
A crise continua feia.
Saiu no jornal.
Brasileiros procuram ossos e carcaças para se alimentar.
Caminhões de frigorífico são a principal opção.
Renatinho estava com oito anos. Parecendo quatro.
—Quando eu chego no caminhão…
Ele suspirava.
—Todo mundo já entrou na minha frente.
O garoto não se deixava desanimar.
A mãe dele se chamava Dileia.
—Sempre foi persistente.
Ela sonhava.
—Quem sabe um dia vira empresário.
Manhã de terça-feira.
Renatinho apareceu com um saco plástico.
—Mãe. Olha o que achei.
Pedaços de carne. Ossos de boas dimensões.
Dileia examinou o pacote.
—Onde você achou isso?
—Lá… perto do campinho.
—Não foi do caminhão?
—Não…
Renatinho continuou a explicar.
—Muita gente pegou.
O tapa estalou na cara do petiz.
—Vai ser burro assim no inferno.
A explicação veio depois.
Matança promovida pela Polícia Militar.
Vários corpos jogados em bairro do Rio.
Dileia dá o recado.
—Osso, só de frigorífico. E olhe lá.
Crime. Fome. Violência.
Muita gente se esquece.
Mas é sempre necessário ver o lado humano das coisas.

Notícias relacionadas