Não há mágica contra o crack

"A cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais. Nem a prefeitura permitirá nem o governo. Essa área será liberada de qualquer circunstância como essa. A partir de hoje, isso é passado."

A frase é do então prefeito João Doria (PSDB), hoje governador. Foi dita em tom de triunfo, em 21 de maio de 2017, após mais uma das inúmeras operações policiais já realizadas na região. No dia seguinte, Doria mudou o discurso e reconheceu a extensão do problema, mas rebatizou o local de "Nova Luz".

Nem uma coisa, nem outra. Desde então, pouco mudou no varejão de drogas instalado ao ar livre no centro da capital. O nome mais apropriado continua sendo cracolândia, e novas ações da polícia surtiram efeitos quase imperceptíveis.

As operações mais recentes, aliás, teriam ganhado novos contornos. Segundo usuários de drogas, moradores e assistentes sociais, as ações da Polícia Militar de Doria e da Guarda Civil --esta sob responsabilidade do prefeito Bruno Covas (PSDB)-- estão mais violentas. 

A tática seria uma forma de pressionar os usuários a deixar a cracolândia, na versão desses denunciantes. Tanto a PM como a Guarda negam qualquer mudança na conduta de seus agentes.

Se há dúvidas sobre as abordagens da polícia, o fato é que duas unidades de atendimento social da prefeitura saíram de lá e foram para a marginal Tietê. Para especialistas, distanciar o atendimento prejudica o tratamento e desmotiva a procura por ajuda.

É claro que esforços recentes, da prefeitura e do governo, têm apresentado bons resultados, como atrair famílias à região e criar programas de amparo. Mas, pelo que se vê há décadas, não será na marra que a cracolândia vai acabar.

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