Descrição de chapéu Opinião

A bola é um detalhe: Um grande boboca

No duelo entre Donald Trump e "King" James, ficou claro quem é o bobo e quem é o rei

São Paulo

No último dia de comícios na campanha presidencial norte-americana, na última segunda, Donald Trump se divertiu com sua claque na Pensilvânia. O presidente dos Estados Unidos atacou o melhor jogador de basquete do mundo e foi ao delírio com os gritos de “LeBron James sucks”, algo tão supimpa que pode ser traduzido como “LeBron James é boboca”.

Agora, quem está com cara de boboca é Trump. Ultrapassado na contagem de votos da própria Pensilvânia, ele sabe que a confirmação da derrota para Joe Biden é questão de tempo.

Com o fracasso na tentativa de reeleição, o dito republicano está agindo exatamente como dele se esperava. É o menino mimado que não aceita o resultado desfavorável e resolve interromper o jogo com a inquestionável autoridade de dono da bola.

Donald Trump se deleitou na companhia de sua claque na Pensilvânia antes de começar a espernear - Carlos Barria - 2.nov.20/Reuters

Ocorre que Trump não é dono da bola nem da Casa Branca. Ele pode espernear e gritar pela mamãe, mas, se não conseguir uma virada espetacular, terá de fazer suas malas e deixar a residência oficial do presidente.

E dá para dizer sem exagero que o despejo tem bastante a ver com LeBron James e outros bobocas da NBA. Eles chegaram a interromper o campeonato, indignados com a brutalidade policial contra negros patrocinada pelo Estado, e só aceitaram concluí-lo certos de que sua mensagem seria ouvida claramente.

Uma das condições para o reinício, já na fase decisiva, foi uma ampla campanha de acesso ao voto, que não é obrigatório nos Estados Unidos. Houve foco particular na comunidade negra —como é negra 80% da NBA—, que tinha índices baixos de comparecimento às urnas e dificuldades de regularização eleitoral.

"King James", como é chamado LeBron, usou a majestade que tem com a bola de basquete na mão e pediu que os norte-americanos fossem às urnas - Mike Ehrmann - 22.set.20/AFP

Os números ainda estão sendo contabilizados, mas o número de eleitores quebrará o recorde com larga margem. E todas as análises sérias, não feitas pelo pretenso dono da bola, apontam que esse contingente novo de votantes, com boa porção de negros e mulheres, fez a disputa pender para o lado de Joe Biden.

Em alguns estados capitais, a diferença foi pequena. De modo que a campanha encabeçada por LeBron e os votos entregues em 20 ginásios da NBA tiveram papel relevante na definição de quem é de fato o dono da bola e quem é o boboca.

Marcos Guedes
Marcos Guedes

33 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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