Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Sofrimento à flor da pele

São Paulo

O preconceito reverso presente no vitimismo das autointituladas minorias é o grande mal da segregacionista sociedade brasileira.

"Alemão", apelido carregado de violenta xenofobia, sente na pele desde a infância todo o peso que é ser homem loiro de olhos azuis em um país em que negros e mulheres são a maioria da população e impõem o discurso fácil do suposto racismo e machismo estruturais.

Cláudio Oliveira

Ser o único "alemãozinho" no time de futebol e, coincidentemente, o único que estudava em escola particular, traumatizou o garotinho. Ele sofria ao ser invejado pelos amiguinhos por ter sempre a presença do pai no treino e por, às vezes, abrir mão do lanche dado pelo clube por já ter-se alimentado em casa.

O preconceito também estava presente na catequese, nos bailinhos da vassoura e nas domingueiras: como se destacar e fazer a diferença na multidão sendo católico e heterossexual em um ambiente competitivo em que todos também eram?

O pior é a hipocrisia: chamar preto de macaco não podia, mas Alemão, coitado, sempre aguentou calado as zoeiras com o cabelo "tijela" e com o "camarão" que ouvia quando voltava vermelho de sol das férias na praia.

Ser corinthiano e amar futebol era ser tachado de modinha! "Macho", respeitado e invejado na turma, era quem era ruim de bola, nunca era escolhido para o time e fazia aulinha de dança. Todos babavam nos diferentões, enquanto Alemão e a silenciosa maioria da turma do futebol ficavam à margem, como um branco no meio de um mar de negros suspeitos em uma abordagem policial de rotina.

No ensino médio, Alemão trocou de bairro, colégio e logo virou grande amigo do "Bó", o negrão da sala. Estavam sempre juntos na gandaia, menos no estádio, já que o colega era (e continua sendo) são-paulino.

A amizade só vingou porque Bó nunca foi racista. Ele até teve um namorico com uma brancona cor do pecado e, na infância, conviveu com uma branquinha, trabalhadora e limpinha, que fazia faxina semanal em sua casa.

Alemão lutou, venceu os obstáculos e, por meritocracia, cursou e se formou em jornalismo com ajuda financeira, logística, emocional e estrutural dos pais. E, até hoje, colunista esportivo, sofre! Não pode errar que os censores gritam: "só podia ser branco, deve ser cotista"!

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Malcom X: "Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido".

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Este texto contém alienação e triste ironia.

Vitor Guedes
Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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