Fiquei fascinado, na sétima ou na oitava série, quando uma professora explicou o conceito de obsolescência planejada. Não que a ideia fosse inspiradora, mas aquela aula foi um marco, senti que finalmente entendia o mundo, ou ao menos parte dele.
É claro que eu não tinha entendido nada, e continuo não entendendo. Porém um pouco da minha inocência ficou no colégio naquele dia.
Como sabe o leitor, obsolescência planejada é a programação estabelecida para que um produto vendido logo fique defasado. Quando você compra um celular, por exemplo, sabe que em não muito tempo ele estará desatualizado, obsoleto, e tentarão lhe empurrar um modelo mais moderno.
Ao se deparar com algum anúncio de qualquer bugiganga “de última geração”, tenha a certeza de que a geração não é tão última assim. Já há mais umas duas na fila, com o seu nome na etiqueta, para que você compre de novo e de novo.
Adulto, eu conheci outro tipo de obsolescência planejada, adotada por administrações públicas particularmente afeitas a privatizações e concessões. Antes de entregar o estádio, a estrada ou o aeroporto à iniciativa privada, o governante o abandona por completo.
Os cupins tomam conta, as goteiras se instalam. Aí, o argumento para justificar a entrega passa a ser justamente esse abandono, como se não fosse o próprio governo o responsável pelo estado lastimável.
É o que estamos vendo na ânsia de João Doria Jr. para derrubar o complexo esportivo do Ibirapuera. É como se dissesse: “Olha como está arrebentado, precisamos deixar nas mãos de alguém que modernize tudo”.
É óbvio o interesse comercial. E é óbvio, como mostraram as barragens estouradas em Mariana e Brumadinho, ou como está mostrando o apagão no Amapá, que a iniciativa privada não oferece necessariamente um firme compromisso com a qualidade.
Para ficar em São Paulo, poderíamos falar aqui sobre as estradas do estado, suas obras e seus contratos. Mas é melhor sair Dersa.
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