Nota de R$ 200 dificulta troco e requer cuidados, dizem lojistas de SP

No comércio popular, temor é golpes; há quem acredite que impacto é pequeno por causa dos pagamento com cartão

São Paulo

Lançada pelo Banco Central no início deste mês, a nota de R$ 200 gerou preocupação entre os comerciantes. Os lojistas temem que a nova cédula possa gerar problemas com a emissão de troco, principalmente no caso de compras de baixo valor. Outro receio é que haja aumento nos casos de falsificação.

“Todo comércio tem um problema estrutural crônico com falta de troco. Imagina agora com nota de R$ 200”, avalia Lauro Pimenta, conselheiro-executivo da Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), entidade que reúne em torno de 15 mil estabelecimentos e cerca de quatro mil comerciantes da região central da cidade.

Ele cita que o Brás e os bairros vizinhos têm como perfil incentivar a compra em espécie, inclusive com promoções e descontos aos clientes. “É prática comum aqui e não podemos perder. Por isso, nós temos de nos reinventar agora com volume de troca maior e reserva de caixa”, afirma.

Pimenta diz que, desde o dia 2 de setembro, já recebeu quatro vezes a nova cédula em sua loja de roupas. "Em uma dessas vezes, a minha primeira venda em dinheiro do dia foi para um cliente que comprou R$ 20 e usou uma nota de R$ 200. Tive que arrumar R$ 180 de troco logo de manhã", lembra.

Ele conta que já precisou recorrer a cafeterias e lanchonetes próximas para conseguir trocar o dinheiro.
Proprietária de uma banca de revistas em frente ao Hospital das Clínicas, na zona oeste da capital, Marisa Mendes Tenório, 40 anos, ainda não recebeu a nova nota. Porém, a possibilidade de encontrar o lobo-guará a preocupa. Isso porque, segundo ela, arrumar troco para compras com cédula de R$ 20 já é um problema. "Imagine, então, a de R$ 200", questiona.

Lauro Pimenta, dono de loja de confecções na rua Oriente e conselheiro executivo da Alobrás, diz quer a primeira nota de R$ 200 que recebeu foi para cliente pagar compra de R$ 20; ele vê preocupação com troco - Arquivo pessoal

A preocupação com o troco também é compartilhada pelo diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luiz Augusto Ildefonso da Silva. "O Brasil fez o caminho inverso de outros países, que hoje não produzem mais notas de alto valor. Vejo mais pontos negativos do que positivos", lamenta.

Gerente de uma loja de roupas no Brás, Liliane Regina Costa, 33 anos, recebeu há poucos dias a nova cédula em seu estabelecimento. Ela conta que ficou surpresa e curiosa quanto à autenticidade do dinheiro.

Poucas mudanças

O economista Marcel Solimeo, conselheiro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), classifica que o impacto da nova nota no varejo será pequeno. Isso porque atualmente os consumidores se utilizam de outras modalidades de pagamento, principalmente os cartões de débito e crédito. “A tendência é diminuir o dinheiro em espécie”, aponta o especialista.

Assessor econômico da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Guilherme Dietze também considera que vai ser difícil ver o lobo-guará circulando pelo comércio, principalmente nas lojas mais populares.

A Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências) diz que a maioria de seus associados ainda não recebeu a nova cédula. Segundo a entidade, a maioria das compras na região é feita por meio de cartões de débito e crédito.

Lado bom

Em contrapartida, para alguns segmentos, a novidade é positiva. Principalmente para os estabelecimentos em que o tíquete-médio é um pouco mais elevado. É o caso da empresária Roberta Fiaux, 31 anos, proprietária de um salão de beleza e tratamentos estéticos na zona norte de São Paulo.

Na opinião dela, a cédula de R$ 200 fará com que as clientes consigam guardar mais dinheiro e, assim, ter acesso a procedimentos com valor um pouco mais elevado. "Quando a gente troca o dinheiro, acaba gastando. Nesse sentido, a nova nota ajudará a fazer com que se guarde mais", comenta. No salão de Roberta, entre 50% e 60% dos pagamentos são feitos em espécie.

Dono de uma loja de artigos esportivos no Ipiranga (zona sul), Armando Fernandes Leite, 65, também defende a cédula. “A gente precisava de uma nota de valor maior, uma vez que houve a desvalorização do real”, defende.

Na loja esportiva, as vendas são efetuadas em sua maioria com cartões e cheques pré-datados, mas há os casos de pagamentos em dinheiro. “Vejo como falta de preparo do comerciante não ter troco. Se entrar uma nota de R$ 200, farei o possível para completar o valor na venda. Esse é o segredo do bom vendedor”, justifica.

Demanda por dinheiro

Como justificativa para a criação da nota de R$ 200, o Banco Central cita que a pandemia de Covid-19 gerou um aumento da demanda por cédulas no país. Segundo a instituição, neste período o brasileiro passou a guardar mais dinheiro em casa, o que é chamado de entesouramento.

O BC afirma também que o aumento de saques motivados pelo auxílio emergencial contribuiu para a elevação na demanda por dinheiro em espécie. "No fim de março, a quantidade de dinheiro em circulação era de aproximadamente R$ 260 bilhões. A partir daquele momento, esse montante começou a subir rapidamente e, em 17 de agosto alcançou R$ 350 bilhões", diz a instituição.

Para evitar o recebimento de notas falsas, o BC orienta que os comerciantes sigam alguns passos ao se deparar com a nova cédula. Um deles é a verificação do número, no canto direito superior. O número 200 muda do azul para o verde, com uma faixa brilhante parecendo rolar para cima e para baixo, quando o papel é movimentado.

Além disso, há uma marca d'água no valor da nota e na imagem do animal - no caso, o lobo-guará. Também há a presença do número 200 escondido. Ele pode ser visto quando a nota é colocada na posição horizontal, na altura dos olhos. Está presente tanto na frente como no verso da cédula.

A análise também pode ser feita por meio do tato, já que já elementos em alto-relevo na frente e no verso.

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