Adolescente é colocado em cela pela polícia

Menor de 14 anos também foi "fichado"

São Paulo

A Polícia Civil apreendeu um adolescente de 14 anos dentro de uma cela com grades, parecida com uma jaula, em Barueri (Grande SP), após o garoto ser acusado de ameaçar promover um ataque com arma de fogo na escola onde estuda.

Além disso, um policial supostamente teria feito uma foto do menor com um cartaz de fichado, que foi compartilhada nas redes sociais, descumprindo determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O adolescente de 14 anos, dentro da cela da Dise de Barueri (Grande SP) - Arquivo Pessoal

Segundo a mãe do garoto, uma professora de 35 anos, o filho conversou com um colega sobre o massacre de Suzano (Grande SP), em que dez pessoas foram mortas em 13 de março, incluindo os dois assassinos. “Meu filho foi bobo, não sabia que o colega havia gravado a conversa entre eles [ocorrida um dia após o massacre]”, explicou.

A reportagem teve acesso ao áudio. De acordo com ele, o adolescente afirma sofrer bullying e que tinha uma arma de fogo. “Tava pensando em ir de sala em sala mas, o pessoal vai escutar os tiros e vai correr”, diz trecho do áudio. Apesar das afirmações do adolescente, no entanto, nenhuma arma foi encontrada com ele.

“Circo armado”

A conversa foi gravada pelo amigo e chegou à direção da escola. A mãe e o adolescente foram chamados à unidade de ensino, que afastou o menor por dois dias. “Quando ele voltou às aulas [dia 18 de março] tinha todo um circo armado em frente à escola”, relatou a mãe do jovem.

Policiais apreenderam o menor e o levaram à Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes), onde o adolescente foi sindicado por ameaça.

A mãe dele, durante o registro do caso, notou que o jovem tinha “sumido”. “Um policial disse que o delegado havia deixado meu filho em um lugar ‘para pensar’”.

Quando a professora subiu ao primeiro andar do distrito, viu o filho dentro da cela. “Tirei uma foto escondida, mas um policial viu e saí correndo”. 

Por fim, o menor foi encaminhado à Vara da Infância e da Juventude, que não acatou ao pedido da polícia e Ministério Público, para que o garoto fosse internado por 45 dias na Fundação Casa. Apesar disso, o processo continua em andamento.

Gravidade

Ariel de Castro Alves, advogado especialista em direitos da infância e juventude e conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos de SP), afirmou que “o mais grave”, neste caso, foi o fato de a polícia divulgar a foto do menor, segurando uma plaquinha, como ocorre com criminosos. “Além disso, a polícia errou ao apreender o jovem, em frente à escola, deixando o adolescente ainda mais estigmatizado, já que ele sofria bullying no local”.

Ele acrescentou que, antes de chamar à polícia, o Conselho Tutelar deveria ter sido acionado para cuidar do caso. “O jovem tem depressão e, segundo ele mesmo falou à polícia, ‘não falava sério’ sobre realizar um ataque”.

Alves ainda ponderou que, por conta do massacre de Suzano, “qualquer situação acaba se amplificando”. “O pânico é compreensível, mas é necessário um preparo melhor de quem atua na área policial e também das escolas”, afirmou.

Resposta

A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que o Núcleo Corregedor de Carapicuíba apura a divulgação “indevida” da imagem e informações sobre o jovem, “restritas ao trabalho policial”.

“Foram instaurados dois procedimentos, uma apuração preliminar com o objetivo de verificar se houve alguma infração funcional por parte dos policiais envolvidos na ocorrência, e um inquérito policial para apurar possíveis infrações penais por parte dos agentes durante o registro do caso”, diz trecho da nota.
 

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