Conheça os atores amadores que vivem Jesus por um dia

Eles deixam a profissão de lado para encenar a Paixão

São Paulo

O papel de Jesus Cristo será encarnado hoje, na Sexta-Feira da Paixão, por vários homens comuns de comunidades da Igreja Católica espalhadas pela capital e Grande SP. Alguns deles, desde dezembro do ano passado, dividem seu tempo entre o trabalho diário, a família e os ensaios da via-sacra que retrata a vida, morte e ressurreição de Cristo. Sem serem remunerados para isso.

Veterano na função e com dez anos consecutivos como Jesus Cristo, o designer gráfico e servidor público Sinnayder Barcelos, 45 anos, contou que, desde o fim do ano passado, já entra no espírito e deixa de fazer a barba. Ele atua no Drama da Paixão de Santana de Parnaíba (Grande de SP), evento do gênero considerado o maior de SP.

Com cerca de 400 pessoas, entre atores e figurantes, os ensaios tiveram início na segunda quinzena de janeiro, sempre aos fins de semana, com maratona de nove horas diárias. “É bem puxado, mas vale muito a pena”, afirmou Barcelos, evangélico nascido em Uberaba (MG). De segunda a sexta-feira, trabalha como técnico em som e luz no Cine Teatro local.

A hora de puxar a cruz de madeira maciça, que chega a pesar 60 kg, é especial, diz ele, que tem 1,72 m e pesa 62 kg. ‘Parece que entro em transe e não sinto o peso na hora. Deus me capacita.‘

Ele afirma que, no domingo de Páscoa, passa o dia em repouso, tomando suco e com uma alimentação leve, recuperando o corpo das dores.

O espetáculo estreou ontem e prossegue até amanhã _ estima-se que 20 mil pessoas circulem pelo local.
Estreante no papel, o auxiliar de escritório Eduardo Araújo da Costa, 22, é o mais novo dos atores. Ele estará na Paróquia Santa Cruz, na região da Brasilândia (zona norte). O ato da Paixão, que entra em sua 12ª edição, ocorre no entorno da igreja.

Quando recebeu o convite para interpretar Jesus, Costa disse que precisou de dois minutos de reflexão antes de dizer que aceitaria o papel. Os ensaios iniciaram na segunda quinzena do ano passado, sempre aos domingos.

Ali, o calouro não teve de se preocupar em ter barba e o cabelo comprido. “Já tivemos Jesus calvo, com tatuagem e cabelo black”, disse o professor de história Flávio Casimiro de Sousa, 38, que, após cinco anos como Jesus, passou o papel para Costa neste ano.

Grande emoção

Pelo quinto ano, o servidor público Rafael Franco Bueno de Oliveira, 29 anos, atuará no papel principal na encenação da Paróquia Cristo Operário, em Santo André (Grande SP).

“É sempre um desafio, e o coração acelera como se fosse a primeira vez”, diz Oliveira, que sempre se emociona na cena da via-sacra, quando, ao carregar a cruz, passa no meio do povo.

O servidor público conta que, neste ano, ser Jesus veio em um momento especial. Em setembro, chegará Pedro, primeiro filho que terá com a mulher, Laryssa Ferreira, 26.

O fotógrafo Adriano Oliveira, 27, avalia que o convite para encenar Jesus pela primeira vez foi uma forma de reaproximá-lo de sua fé. “A responsabilidade é imensa”, diz ele, que comandará nesta sexta-feira a 22ª Paixão de Cristo no estacionamento do Cantareira Norte Shopping (zona norte).

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.