Entregadores de aplicativos fazem greve nesta quarta (1º)

Motociclistas criticam valores baixos oferecidos pelas empresas e a falta de equipamentos de segurança no trabalho

São Paulo

Os motoboys que atuam por meio de aplicativos de entrega organizam uma paralisação nacional para esta quarta-feira (1). O movimento surgiu em grupos de WhatsApp. Os motofretistas criticam os baixos valores pagos pelas empresas e a falta de segurança no trabalho.

Na capital, os motociclistas prometem se reunir em frente ao Sindimoto (Sindicato dos Motoboys de São Paulo), que fica na rua Dr Eurico Rangel, 58, no Brooklin Novo, zona sul, e seguir até o Ministério Público do Trabalho, na região da avenida Paulista.

No dia 20 de abril deste ano, um grupo de motoboys da capital paulista já havia realizado protestos contra empresas de delivery em que pediam melhores condições de trabalho
No dia 20 de abril deste ano, um grupo de motoboys da capital paulista já havia realizado protestos contra empresas de delivery em que pediam melhores condições de trabalho - Zanone Fraissat - 20.abr.20/Folhapress

"É um protesto referente à precarização do trabalho que ocorre desde 2015, quando chegaram esses aplicativos no Brasil", afirma Gerson Silva Cunha, 39 anos, presidente interino do Sindimoto.

Entre as principais queixas da categoria estão os valores das taxas pagas aos motofretistas por cada entrega, ausência de um seguro de vida, fim da pontuação por ranking e ausência de equipamentos de proteção fornecidos pelas empresas de aplicativos.

Eles também criticam a falta de apoio das empresa de aplicativos nos casos de acidente no trânsito. Segundo a categoria, os baixos valores repassados em cada entrega incentiva que os motociclistas andem em em uma velocidade cada vez maior para conseguir fazer mais corridas e aumentar o salário.

"Até a proteção contra o coronavírus sai do bolso dos meninos. Álcool em gel, máscaras, elas [empresas] dizem que dão, mas não dão. E quando fornecem é um kit só, o menino fica 12, 14 horas trabalhando com a mesma máscara", diz Gerson.

Ele afirma que quando o motociclista trabalha diretamente para um restaurante ou para uma empresa de fretes recebe um valor maior por cada viagem.

"Cria um vínculo de trabalho. Pelo menos, dá mais segurança. As empresas de aplicativos repassam pouco para o entregador e o valor está cada vez menor", conta. Um dos motivos para a queda deste valor seria que muitos estabelecimentos dispensaram os motoboys contratados e passaram a utilizar os aplicativos, o que fez o preço da corrida ficar ainda menor.

Segundo Gerson, em 2016, o valor pago por uma corrida era, em média, de R$ 4,58, agora o valor pago é de R$ 0,70. "Em 2016, na média, era possível tirar entre R$ 4.500 e R$ 5.000. Hoje, o entregador trabalha 12 horas, 16 horas por dia e recebe cerca de R$ 2.000, fora a manutenção da moto e a gasolina, que sai deste dinheiro".

Os entregadores de aplicativos criticam os baixos valores pagos pelas empresas e a falta de segurança para desempenhar suas funções
Os entregadores de aplicativos criticam os baixos valores pagos pelas empresas e a falta de segurança para desempenhar suas funções - Karime Xavier - 3.abr.20/Folhapress

​Empresas afirmam oferecer seguro

Procurada pela reportagem, a Uber Eats afirmou que os ganhos da empresa estão disponibilizados "de forma transparente para os entregadores parceiros, no próprio aplicativo, ficando clara cada taxa e valor correspondente".

A empresa disse que não houve nenhuma diminuição nos valores pagos por entrega, que "seguem sendo determinados por uma série de fatores, como a hora do pedido e distância a ser percorrida". Sobre as ações da empresa frente à Covid-19, a Uber Eats diz que realizou assistência financeira para motoristas e entregadores e o reembolso de álcool em gel e produtos de limpeza.

A Rappi reconhece o direito à livre manifestação pacífica e busca continuamente o diálogo com os entregadores parceiros de forma a melhorar a experiência oferecida a eles.

"Além disso, a empresa já oferece, desde o ano passado, seguro para acidente pessoal, invalidez permanente e morte acidental; parcerias que possibilitam desconto na troca de óleo, na compra de rastreador de veículos e em estacionamentos de bicicletas próximo a estações de metrô; e inaugurou Rappi Points (bases físicas para descanso, que estão fechadas devido à pandemia). Novos benefícios devem ser adicionados e comunicados em breve".

Sobre o valor do frete, a empresa diz que o repasse varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido. "Ainda, a Rappi possibilita que os clientes deem gorjeta aos entregadores por meio do aplicativo de forma segura".

O iFood diz que apoia a liberdade de expressão em todas as suas formas. A empresa afirma que "não possui um sistema de ranking nem de pontuação. O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como, por exemplo, a disponibilidade e localização do entregador e distância entre restaurante e consumidor".

Sobre os valores pagos, a empresa afirma que, "o valor médio por hora dos entregadores foi de R$ 21,80. Para fins de comparação apenas, esse valor é 4,6 vezes maior do que o valor por hora tendo como base o salário mínimo vigente no país".

Quanto a seguros, o IFood diz que desde o fim de 2019, oferece a todos os entregadores cadastrados em sua plataforma o Seguro de Acidente Pessoal. " O iFood possui ainda parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo para promover boas práticas de conduta no trânsito".

Em abril, a empresa diz ter iniciado a distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com duração de pelo menos um mês.

A Loggi foi procurada pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.

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