Veja filmes sobre as ditaduras da América do Sul

Retratando os anos de chumbo, cinema reforça a importância da democracia

Cena do filme "Pra Frente Brasil"
Reginaldo Faria é Jofre no filme "Pra Frente Brasil" - Divulgação
São Paulo

As recentes manifestações contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional e a favor da intervenção militar, realizadas por grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, levaram a mobilizações da sociedade civil em defesa da democracia.

Como disse Winston Churchill, ela é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. E isso o Brasil sabe bem, depois de mais de 20 anos de uma ditadura militar que reprimiu liberdades civis e torturou e matou milhares de brasileiros.

Neste contexto, a arte é uma forma poderosa de lembrarmos dos anos de chumbo e reforçarmos a importância da democracia. Nesta coluna, sugiro filmes que retratam tanto o período da ditadura no Brasil como nos vizinhos Argentina, Uruguai e Chile, que também sofreram com regimes autoritários (preços e disponibilidade nos serviços de streaming pesquisados no dia 18 de junho).


O ator Antônio Fagundes em cena do filme "Pra Frente Brasil" - Divulgação

PRA FRENTE BRASIL (1982) 
O país vivia sob a ditadura militar quando Roberto Farias lançou “Pra Frente Brasil”, que retrata um dos momentos mais violentos dos anos de chumbo. Em 1970, Jofre (Reginaldo Faria), um “cidadão de bem”, pega uma carona e acaba confundido com um militante de esquerda. Levado para os porões da ditadura, é torturado para dizer o que não sabe.

Enquanto isso, o país assiste eufórico a seleção brasileira na Copa do México, sob a trilha sonora de "Pra Frente Brasil".

A família de Jofre começa a buscá-lo e esbarra na censura à imprensa, em ameaças e no silêncio da polícia, o que até então preferia ignorar.

É interessante a opção de Farias de submeter um homem ‘apolítico’ aos horrores da ditadura, mas o filme pode suscitar a interpretação de que, se militante, ele mereceria tal tratamento. Mas a importância do longa é inegável: levar a tortura às telas quando os militares ainda estavam no poder.

Onde ver
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Cena do filme "Que Bom Te Ver Viva", de Lúcia Murat
Irene Ravache em cena do filme "Que Bom Te Ver Viva", de Lúcia Murat - Divulgação

QUE BOM TE VER VIVA (1989) 
A diretora Lúcia Murat fez deste docudrama também um relato autobiográfico sobre os anos de chumbo no Brasil. Lúcia viveu esse horror: presa por três anos, sofreu torturas físicas, psicológicas e sexuais. O filme mostra os depoimentos de oito torturadas, intercalados por delírios e fantasias de uma personagem interpretada por Irene Ravache.

Onde ver
Spcine Play: grátis
Looke: grátis para assinantes, R$ 4,99 (aluguel) e R$ 19,99 (compra)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Cena do filme "Ação entre Amigos", de Beto Brant - Cristiano D. Wiggers/Divulgação

AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998)
Em seu segundo longa, o cineasta Beto Brant conta a história de quatro ex-militantes de esquerda que buscam um acerto de contas com seu torturador após 25 anos. Quando jovens, durante a ditadura militar, os quatro amigos são presos pelas forças de repressão ao tentar assaltar um banco. Anos mais tarde, todos trazem consigo os traumas da tortura e apenas um deles seguiu a carreira política. É quando um dos amigos descobre que o torturador (Leonardo Vilar), oficialmente morto, leva uma vida tranquila. Em uma viagem de pescaria, ele conta aos amigos a descoberta e eles decidem sequestrar e matar o torturador.

Onde ver
iTunes: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 9,90 (compra)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Cena do documentário 'Céu Aberto', de João Batista de Andrade - Divulgação

CÉU ABERTO (1986) 
O documentário de João Batista de Andrade centra-se na figura de Tancredo Neves para retratar a redemocratização do país. O filme começa com cenas de multidões seguindo o cortejo com o caixão de Tancredo e faz um breve histórico do político e de como ele chegou à eleição indireta como o candidato da oposição. Também lembra a votação da emenda Dante de Oliveira, em 1984, que previa a volta das eleições diretas para presidência, e o aparato que o Exército montou em Brasília no dia da sessão no Congresso em que o texto foi derrotado. Mostra ainda a cobertura da imprensa dos dias de agonia de Tancredo antes de sua morte e traz uma entrevista com Ulisses Guimarães.

Onde ver
Spcine Play: grátis

Cena do filme "A História Oficial"
Cena do longa "A História Oficial", vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro - Divulgação

A HISTÓRIA OFICIAL (1985) 
O diretor Luiz Puenzo tocou em uma das principais feridas da ditadura argentina em “A História Oficial”: o sequestro de crianças, filhas de militantes, nascidas em cativeiro e entregues para outras famílias. No longa, Alicia (Norma Aleandro) é uma professora de história que vive com o marido, um homem de negócios com ligações com os militares no poder, e a filha adotada Gaby, de 5 anos. É 1983, final da ditadura argentina, e a visita de uma amiga planta em Alicia uma dúvida: Gaby é uma dessas crianças sequestradas? O marido sabe, mas se recusa a dizer. Assim, ela começa a investigar e chega às Mães da Praça de Maio, em uma busca pela verdade, por mais dura que seja. O longa rendeu à Argentina o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Onde ver
Netflix: grátis para assinantes

O ator Gael Garcia Bernal em cena do filme "No" - Divulgação

NO (2012)
O filme de Plablo Larrín retrata o final da ditadura de Augusto Pinochet no Chile. Em 1988, pressionado internacionalmente, Pinochet convoca um referendo para que a população decida se ele fica mais oito anos no poder. A oposição se reúne para fazer a campanha do ‘No’ (não). Uma parte quer uma propaganda que mostre os horrores da máquina de repressão de Pinochet. Entra em cena um publicitário que propõe outra abordagem. Sob o argumento que os chilenos têm medo do regime e precisam de esperança, ele cria uma campanha alegre, colorida, sem citar abertamente o terror da ditadura.

Onde ver
iTunes: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 9,90 (compra)
Google Play: R$ 3,90 (aluguel) e R$ 12,90 (compra)
Telecine Play: grátis para assinantes

Uma noite de 12 anos [La noche de 12 años, Uruguai, Argentina, Espanha, 2018], de Alvaro Brechner (Vitrine Filmes). Gênero: drama. Elenco: Antonio de La Torre, Chino Darín, Alfonso Tort. Classificação: verifique em www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao
Cena do filme "Uma Noite de 12 Anos - Divulgação

UMA NOITE DE 12 ANOS (2018) 
O longa de Álvaro Brechner se concentra nos 12 anos em que a ditadura militar no Uruguai manteve presos secretamente três militantes tupamaros que lutavam contra o regime. São eles Pepe Mujica, que viria a presidir o país nos anos 2000, o jornalista e dramaturgo Mauricio Rosencof e o jornalista e escritor Eleuterio Huidobro. Nesse período, eles são transferidos com frequência de prisão e ficam quase sempre isolados um do outro. A tortura, no caso deles, não é física. Assim, tentam encontrar formas de manter a sanidade e sobreviver ao cárcere. Em resumo, esse é um longa em que o espectador é transportado para a angústia do isolamento.

Onde ver
Netflix: grátis para assinantes

Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

47 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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