Solidariedade e redes sociais ajudam comerciantes a reconquistar clientes

Mensagens viralizam na internet e diversas pessoas conseguem recuperar negócios

São Paulo

Com a pandemia provocada pelo novo coronavírus, muitos comerciantes tiveram que fechar as portas, temporariamente, por conta da quarentena do novo coronavírus, que começou no dia 24 de março e foi imposta pelo governo paulista em todo estado de São Paulo.

Quando começaram as flexibilizações das atividades, que variaram em cada região, muitos negócios abriram as portas, mas já não tinham clientes. A somatória de inatividade prolongada e posterior queda na procura pelos seus produtos fez com que alguns donos de estabelecimentos ficassem preocupados com a possibilidade de falência.

Youssef Aoun, de 91 anos, é dono de uma loja de tecidos no centro de Guarulhos (SP); uma mensagem da sua filha ajudou a alavancar as vendas
Youssef Aoun, de 91 anos, é dono de uma loja de tecidos no centro de Guarulhos (SP); uma mensagem da sua filha ajudou a alavancar as vendas - Bruno Santos/ Folhapress

Esse foi o caso de Youssef Aoun, de 91 anos. Dono de uma loja que vende tecidos no centro de Guarulhos (Grande SP), ele ficou cerca de 50 dias parado por conta da pandemia. Quando voltou às atividades, sentiu as dificuldades provocadas pela diminuição da clientela. "Ficou um pouco devagar", conta o empresário que já tem a loja há 26 anos na cidade.

A solução foi buscar apoio na internet, através de uma postagem feita por sua filha no Instagram. O texto viralizou e ajudou a melhorar a situação do comerciante.

A publicação, que já foi vista por quase 40 mil pessoas, afirma que “o Sr. Youssef é um comerciante libanês de 91 anos que esbanja simpatia pelas ruas do centro de Guarulhos. Por conta da pandemia, ficou com a loja fechada, mas nunca perdeu a fé por dias melhores. Agora, com a retomada do comércio, ele está de volta com tecidos de qualidade e lindas estampas, inclusive para máscaras. Convidamos você a vir conhecer, levar um corte e compartilhar esse post numa grande corrente do bem!”

Segundo ele, a postagem nas redes sociais ajudou a aumentar a clientela, embora ele ainda sinta que a movimentação pré-pandemia era bem maior. "Atrapalhou muito [a quarentena], tá indo mais ou menos. Mas dá para pagar as contas", explica, aliviado, o lojista que conseguiu recuperar parte de sua clientela com a solidariedade mostrada na internet.

Camiseiro teve de negar pedidos

Outro caso de apoio a comerciantes via redes sociais ocorreu com a Camisaria do Sr. Pedroso. Após uma publicação na internet viralizar, a loja não só retomou as vendas de antes, como agora nem consegue dar conta de tantas encomendas.

O vídeo que pedia ajuda para a loja correu o Brasil. "Quem puder comprar uma camisa do Sr.Pedroso para ajudar... já foi um camiseiro famoso e hoje não está conseguindo se manter. Fica na Vila Romana. Se não se interessar, por favor compartilhe. Dia dos Pais chegando... de repente alguém queira", diz a mensagem que foi compartilhada pelas redes sociais.

"Mudou tudo. Tem gente vindo conhecer a loja, o telefone não para de tocar, estamos recusando pedidos porque é um produto artesanal, são só camisas", conta Daniel Pedroso Ziccardi, 39 anos, neto do proprietário da camisaria que fica na zona oeste da capital paulista.

Ele está ajudando o avô de 90 anos, que está estranhando tanto assédio. "Ele ficou dois meses em casa, por conta da pandemia. Quando voltou não tinha mais cliente. Ele paga aluguel aqui, gosta do que faz", conta.

Segundo Daniel, a loja recebe ligações de diversos locais do país e até dos EUA. Também foram criadas quatro vaquinhas online para ajudar a camisaria, de forma espontânea, uma delas de pessoas de Maceió, em Alagoas, que não conhecem a loja, mas se sensibilizaram com a situação.

Placa faz loja de plantas ganhar fôlego

Na zona sul, uma loja de plantas também recebeu muitas visitas após pedidos pela internet. "Foi uma plaquinha que eu fiz, no desespero. Eu estava com a loja quase fechada. Uma freguesa viu, tirou uma foto e colocou na rede social, se espalhou e parece que as pessoas se comoveram", conta Nelson Simeão, 84 anos.

A loja, que fica no bairro do Brooklin, existe há 50 anos. Uma das diversas mensagens postadas nas redes sociais com a foto do comerciante dizia "por conta das imensas dificuldades financeiras em decorrência da pandemia, o Sr. Nelson está à beira da falência e precisa de ajuda para virar o jogo. Para a turma da região que puder e quiser dar aquela força".

Segundo o proprietário da loja de plantas, as vendas melhoraram bastante após os pedidos de ajuda na internet. "Estou muito feliz. Não é como no começo do ano, mas já está bem melhor".

Sorveteiro pede ajuda e vende tudo

Em Votuporanga, no interior de São Paulo, o dono de uma gelateria conseguiu vender todo o seu estoque após um apelo nas redes sociais. Ele viu as vendas caírem muito, por conta da quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Com dificuldades para pagar as contas, a energia elétrica chegou a ser cortada, o que torna impossível manter o acondicionamento dos sorvetes.

O comerciante Luís Augusto Demori, 42, gravou um vídeo anunciando algumas promoções. Chorando, ele chama os clientes para comprar os produtos. "Devido à crise que vem se agravando, eu não consegui manter a conta de energia paga", diz um trecho do vídeo. "Então, eu estou fazendo uma promoção relâmpago, para não perder todo o sorvete".

"Só que eu não posso deixar escolher os sabores, a pessoa chegar e ficar escolhendo. Tem que ser rápido, se não o sorvete vai derreter", diz um outro trecho do vídeo. A publicação teve mais de 15 mil vizualizações no Instagram. Os moradores da região atenderam o chamado, formaram fila na loja e o comerciante conseguiu vender seus produtos antes que eles derretessem.

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.