Mulher pega produtos de artesã e deixa carta dizendo que é para comprar comida e que vai pagar

Caso aconteceu no fim de semana em mesa de honestidade em Santos

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São Paulo

A artesã Aline Ketline Mendes, 31 anos, resolveu, há um ano, montar uma mesa da honestidade, local onde deixa seus produtos expostos sozinhos e as pessoas interessadas pegam o que querem e deixam o valor correspondente em uma caixa, sem que ela receba o dinheiro e o próprio cliente pega seu troco, quando for o caso.

No entanto, no último sábado (15), ela se surpreendeu ao encontrar um bilhete incomum dentro do baú depositado em frente à sua banquinha no bairro Boqueirão, em Santos (77 km de SP). Na carta, uma pessoa diz ter pegado dois dos laços de cabelos expostos ali, mas sem deixar qualquer valor. A intenção, pelo teor do manuscrito, era de revender os produtos para comprar comida para a família.

No mesmo pedaço de papel, a pessoa que pegou os acessórios, que custam R$ 15 cada, disse ter a intenção de pagar pelos laços levados.

Ao Agora a artesã afirmou que só percebeu o recado quando estava em casa. "Sempre, no final da tarde, eu recolho a mesa. Junto tudo e levo para fazer a contabilidade do que vendeu e o dinheiro que entrou", mas, desta vez, ao abrir a caixa, por volta das 19h, percebeu a carta.

Bilhete deixado por uma pessoa desconhecida na "mesa da honestidade", em que artesã deixa laços de cabeço para venda em Santos (SP); na mensagem, a autora diz que não é ladra, que é mãe e que pegou dois acessórios sem pagar para vender e comprar comida para a família, e que vai pagar - Arquivo pessoal

Num primeiro momento, ela alegou não ter se surpreendido, uma vez que está acostumada a receber bilhetes em agradecimento à sua iniciativa em confiar nas pessoas. Mas logo percebeu ter nas mãos algo então inédito na história da mesa da honestidade. "Foi a primeira vez que isso aconteceu, receber uma carta no lugar do dinheiro", disse.

Aline afirmou que o fato a deixou aborrecida, mas não pela ausência do pagamento, pela condição em que a pessoa, que seria uma mulher, está vivendo. "Quando li a carta que dizia: 'não sou ladra, mas peguei os laços para vender e alimentar minha família', foi uma mistura de tristeza muito grande de ver de perto que a situação das pessoas está difícil”, contou. No complemento do texto, a mulher escreveu "vou te pagar".

Entretanto, a artesã afirmou ter sentido alívio, pois percebeu honestidade em quem levou os produtos sem pagar. "Ao mesmo tempo, uma esperança, pois a pessoa poderia levar os laços embora e não se identificar".

Aline também ponderou que a ação em pegar o laço e não pagar mostra que a situação do país não está boa, que as pessoas são honestas, mas estão enfrentando dificuldades. "Ela levou apenas dois laços. Ela poderia ter pegado mais, mas só pegou dois."

Como a mulher disse não ser ladra, a artesã afirmou que espera que ela entre em contato, "Eu fotografei para mandar para meus contatos e joguei a carta fora. Não imaginaria que daria essa repercussão. Mas acredito sim, que ela vai entrar em contato comigo para pagar", afirmou. O contato também pode contribuir para o sustento da família da mulher, uma vez que Aline espera oferecer uma oportunidade de trabalho. "Eu vou esperar ela entrar em contato comigo. Ela ainda não entrou, mas tenho certeza que vai entrar, e vou propor para ela revender os laços de uma maneira mais correta."

"Mesa da honestidade", da artesã Aline Ketline Mendes, de Santos (SP); no local, as pessoas pegam as peças e deixam o dinheiro - Arquivo pessoal

Mesa da honestidade

A artesã relatou que, há um ano, decidiu criar a mesa da honestidade. Na prática, ela instala uma banca em frente a estabelecimentos comerciais onde deixa seus laços e uma caixa ao lado, em que as pessoas devem deixar o valor correspondente ao produto adquirido.

No final da tarde ela passa no local, e desmonta a mesa. "Ela representa 40% de toda minha venda, [os outros] 60% vendo pelas redes sociais.

Além de Santos, onde a exposição ocorre aos fins de semana, é possível encontrar a mesa da honestidade em Santana de Parnaíba (Grande SP) e Sorocaba (87 km de SP) durante a semana. Não há locais definidos para que a ação ocorra.

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