Advogado das letras

Esqueça o ritmo frenético dos livros policiais do escritor americano Harlan Coben. Deixe de lado os detalhes da investigação criminal descritos por Michael Connelly. Pule também as tramas mirabolantes de James Patterson. Aos 60 anos, o autor John Grisham se difere de seus conterrâneos no cuidado com o qual desenvolve suas tramas.

Embora também aposte no vasto gênero do suspense (um dos favoritos aqui da coluna), Grisham não se contenta em construir personagens psicologicamente bem estruturados: traça, em seus livros, um retrato da sociedade da época em que as histórias estão ambientadas.

É esse o caso de seu mais recente lançamento no Brasil, "A Herança" (R$ 34,50, 560 págs., Rocco).

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A trama traz o advogado Jack Brigance às voltas com mais um caso polêmico.

Desta vez, ele é escolhido pelo endinheirado e misterioso Seth Hubbard, um homem recluso que decide se matar, para defender a vontade expressa em seu testamento.

A confusão começa quando é descoberto que Hubbard deixou grande parte de seus mais de US$ 20 milhões à empregada, Lettie Lang, além de uma pequena quantia ao irmão, há muito desaparecido, e à igreja.

No fim dos anos 1980, pesa o fato de Lettie ser negra e possuir uma família problemática, em uma cidade do interior do Estado do Mississippi, marcada por racismo e preconceito.

Envolvente, o enredo mostra que, quase 25 anos após a primeira aventura de Brigance, Grisham está em sua melhor forma, comprovando por que o livro ficou dezenas de semanas entre os mais vendidos nos Estados Unidos.

Livro é sequência de um caso que marcou o herói

É importante contextualizar o lançamento de "A Herança" na obra de Grisham: o livro se passa três anos após a última aventura do herói Jake Brigance e faz diversas referências à trama de "Tempo de Matar" (R$ 34,50, 592 págs., Rocco) –que, por sua vez, não foi qualquer saga.

Ambientada também nos anos 1980, a história mostra a luta de Brigance para defender Carl Lee Hailey, preso depois de matar dois estupradores de sua filha de dez anos.

O julgamento mexeu não apenas com a sociedade da época, marcada pelo racismo da população, mas com os alicerces da vida do mocinho. Brigance ressurge, em "A Herança", em uma casa alugada, vivendo com doações de brechós, depois que os membros da ku klux klan, seita conhecida por apoiar a supremacia branca, explodiram seu lar.

"O Testamento", com uma temática semelhante à de "A Herança", na qual um bilionário se suicida, e "A Confissão", forte crítica à pena de morte, (ambos R$ 34,50, 480 págs.) são outras boas sugestões do mesmo autor.

Vivian Masutti, 29 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é editora-assistente do caderno "Show!" - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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