Diário em quadrinhos

"O Diário de Anne Frank" em quadrinhos resume o texto original para ressaltar metáforas e devaneios da autora

Sempre é um risco adaptar um clássico. E confesso que tive medo quando vi as primeiras imagens de "O Diário de Anne Frank" (R$ 29,90; 378 págs.; BestBolso) em quadrinhos, por mais bonitinhas que fossem.

Mas durou pouco. Esforço do autor israelense Ari Folman e de seu compatriota e ilustrador David Polonsky para atrair novas gerações de leitores, a nova obra (R$ 39,90; 160 págs.; Record) é extremamente fiel ao original de Anne –garota judia famosa no mundo todo por ter mantido, aos 13 anos, um diário, publicado após sua morte, durante o período em que viveu escondida na 2ª Guerra Mundial. Fugindo da perseguição nazista, ela viveu com a família no anexo de um prédio em Amsterdã, antes de ser descoberta, enviada a um campo de concentração e, então, morta, vítima de uma epidemia de tifo.

Anne não escreveu um mero relato de guerra. Seu diário foi escrito e reescrito como obra literária, em uma narrativa conduzida por um humor ácido e sagaz a respeito de diversas facetas psicológicas da vida dentro e fora do anexo. Os quadrinhos, então, viraram uma ferramenta para lançar nova luz à sua história –considerada um espelho universal da condição adolescente (Anne até conta, sem pudores, sentir atração por mulheres).

Embora os quadrinhos tenham sintetizado grande parte do texto, algumas ilustrações valem mais do que muitas páginas, como a acima, que mostra os diversos estados de humor de Anne dentro do anexo. Ou minha favorita: a que animaliza os habitantes do anexo à mesa, desesperados de fome, avessos uns aos outros, enlouquecidos após tanto tempo trancafiados, sob pressão e medo.

Na linguagem dos quadrinhos, os devaneios humanistas de Anne ganham cor entre fatos extraordinários e outros banais, como sua própria personalidade, que oscilava entre análises profundas e geniais e os conflitos comuns a qualquer garota de sua idade. Embora nada substitua a leitura do diário original, essa é mais uma forma legítima de interpretar uma das maiores obras literárias de todos os tempos, que ainda vai encantar muitas outras gerações.

Vivian Masutti, 32 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa

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