Adeus, Cony

Cronista incansável e um dos maiores romancistas do país, o carioca Carlos Heitor Cony morreu no último dia 5, aos 91 anos, deixando um legado imortal. Versátil, de humor elegante, chegou a escrever mais de um romance por ano a partir de "O Ventre", de 1958 –com a trajetória de um jovem rejeitado, matriculado em um colégio interno. Foram dezenas de contos, crônicas e romances. O mais famoso, de 1995: "Quase Memória".

Apesar da sequência de prêmios que recebeu, como o Jabuti em 1996 e 1998, Cony se definiu, em 2000, no discurso de posse da Academia Brasileira de Letras, citando Eça de Queiroz (1845-1900), como um "anarquista entristecido e inofensivo". "Não tenho disciplina suficiente para ser de esquerda, não tenho firmeza suficiente para ser de direita e não tenho a imobilidade oportunista do centro.

Atencioso, conversou com a coluna em 2012, quando "A Noite do Massacre", de 1975, foi reeditado pela Objetiva.

A entrevista (leia na íntegra em tinyurl.com/y9eahbkm) abordou as influências literárias do autor, que citou Sartre (1905-1980), com "A Náusea", Machado de Assis (1839-1908) e o gênero policial, lembrado com "Os Irmãos Karamazov", de Dostoiévski (1821-1881). E acabou assim: "Enquanto o mercado quiser, vou escrevendo. Mas não tenho vontade nenhuma. Minha vontade seria ir para a praia pescar. Já deveria estar quieto no meu canto de pijama, mas vou enfrentar uma feijoada amanhã, que é aniversário do meu motorista".

Vivian Masutti, 32 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa

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