07/08/2011

O octogenário indecoroso

Vivian Masutti
do Agora

Ele não fala sobre seus livros. Em aparições públicas, lança mão de disfarces e faz de tudo para evitar fotografias. Manias de um escritor consagrado, do alto de seus 86 anos.

A bem da verdade, Rubem Fonseca nunca teve grande afeição pelos holofotes. E carregou outros costumes antigos para a fase atual de sua vida literária.

Um deles é exibir, sem pudor, a brutalidade, a sexualidade e a fragilidade do ser humano. "José" (R$ 36,90, 168 págs.,) e principalmente "Axilas e Outras Histórias Indecorosas" (R$ 39,90, 216 págs.), lançados recentemente pela Nova Fronteira, seguem essa linha.

Se não têm a força histórica de "Agosto", sua obra mais famosa, os livros contam com os ingredientes necessários para agradar aos fãs da literatura de Fonseca. O romance "José", com traços autobiográficos, conta a história de um garoto que sonha em se tornar escritor, narrando detalhes de uma trajetória bem semelhante à do próprio Rubem Fonseca. Contudo, para José, como ele afirma na obra, todo relato sobre a própria vida é um apanhado de mentiras para si mesmo e para o leitor.

Quem prefere os contos do escritor e simpatiza com a sordidez de suas tramas vai gostar mais de "Axilas", que lembra o mundo prostituto da coletânea "Secreções, Excreções e Desatinos", menos pelo retrato do ser humano no fundo do poço e mais pela exploração de suas taras peculiares.

Seja qual for a escolha, o leitor terá a oportunidade de mergulhar na mente doentia dos personagens de Fonseca, tão maníacos e humanos quanto o seu genial e discreto criador.

"Agosto": precisa relíquia histórica

Ponto alto na produção de Rubem Fonseca, o livro "Agosto" (R$ 49,90, 368 págs., Agir) é a narrativa de uma investigação criminal que ocorre em agosto de 1954, mês de extrema tensão política no Brasil. A trama se mistura com fatos reais da história do país e com personagens do governo de Getúlio Vargas (1882-1954). O livro deu origem a uma minissérie homônima, exibida pela TV Globo em 1993 e protagonizada por Vera Fischer e José Mayer.

"Feliz Ano Novo": obra-prima do autor

Uma das obras-primas de Rubem Fonseca, "Feliz Ano Novo" (R$ 39,90, 168 págs., Agir) foi lançada em 1975 e, na época, teve sua circulação proibida pelo regime militar. Foi recolhida por ter sido considerada uma "afronta à moral e aos bons costumes". A linguagem seca e violenta da coletânea de contos se tornou uma das características mais visíveis de um dos maiores gênios brasileiros. É um dos melhores livros de contos da literatura nacional.

Vivian Masutti, 25 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br