Na cadeia há um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu sua primeira entrevista, aos jornais Folha de S.Paulo e El País.Como era esperado, o petista aproveitou para detonar o governo Jair Bolsonaro (PSL): "O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco", disse.

A frase revela o espanto dos políticos tradicionais com a vitória do capitão reformado.Afinal, Bolsonaro chegou lá no PSL, um partido que era pequeno e hoje está rachado, e cercou-se de generais reformados que vivem em conflito com uma turma que adora uma teoria da conspiração.

Faltou ao líder do PT, no entanto, olhar para o próprio umbigo: após vencer quatro disputas presidenciais, a verdade é que o partido apanhou de Bolsonaro nas urnas.

Para quem esperava uma autocrítica devido aos escândalos de corrupção e à situação catastrófica deixada na economia, Lula, como esperado, preferiu falar em perseguição: da imprensa, da Justiça, da polícia, do Ministério Público...É natural que o ex-presidente defenda o legado de seu governo, seja ele real ou imaginário, e se diga inocente.

O que não dá mais para engolir é o partido não reconhecer os enormes erros morais e econômicos de suas gestões. Prometer a volta do bem-bom dos anos lulistas (resultado de condições raras no Brasil e no mundo) é querer embromar o eleitor.

Se ficar com esse discurso de sempre, o PT vai se complicar até mesmo para aproveitar as trapalhadas do confuso governo Bolsonaro.