Merenda roubada

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No lugar da carne, ovo. O suco previsto em contrato é cortado pela metade. Não tem proteína de soja? É só trocar por pão de queijo e pipoca, e basta pôr mais arroz no prato para compensar.

Criança come merenda escolar da Escola Estadual Maria José, no bairro da Bela Cintra, em São Paulo, que teve menu de merenda elaborado pela chef Janaina Rueda - Adriano Vizoni/Folhapress

Com truques deploráveis como esses, quadrilhas teriam desviado grana destinada à compra de alimentos para estudantes de escolas do estado.

Iniciada pela Polícia Federal em 2018, a operação Prato Feito vai chegando ao fim com números impressionantes. No total, 154 pessoas foram indiciadas. A investigação aponta que 13 prefeitos paulistas tiveram participação direta no caso (alguns já foram presos ou cassados) e R$ 1,6 bilhão teria sido surrupiado.

De maneira interligada, segundo a PF,  cinco grupos de empresários burlavam licitações e pagavam propinas a políticos. E não era só na merenda: os indiciados também forneciam material escolar, uniformes e serviços como limpeza.

A desfaçatez era tanta que a Prefeitura de Tietê (SP), por exemplo, chegou a pagar R$ 12 pela unidade do ovo. 

Escutas telefônicas revelaram negociatas e cardápios foram adulterados, com menos comida e itens mais baratos.

Se for possível classificar os crimes de corrupção, o desvio de merenda é certamente um dos mais desprezíveis —ainda mais em um país onde muitas crianças dependem da escola para comer.

O que mais assusta é que maracutaias dessa grandeza não são novidade. Já houve escândalo semelhante em 2016, em 22 cidades do estado. Polícia e Promotoria também investigam um esquema de desvios de merenda na capital.

Espera-se que, daqui para a frente, a Justiça cumpra a sua parte. O mesmo vale para os eleitores, que escolherão novos prefeitos a partir de outubro.

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