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O gol não foi a única vítima feita pelo VAR, como é chamado o árbitro de vídeo. Se o principal efeito da hedionda novidade tecnológica foi esvaziar violentamente o grande momento do futebol, houve ainda uma dura consequência prática para toda uma classe: o bandeirinha morreu.
Houve um momento, nos anos 90, em que o auxiliar foi elevado pela Fifa a assistente, em espécie de promoção semântica. Hoje, chame-os do que quiser, aqueles que correm à beira do campo têm função basicamente ornamental.
Como agora todos os lances capitais são revisados, os bandeiras receberam uma orientação clara: eles devem esperar a conclusão da jogada para levantar seu instrumento. Se tiver consequências significativas, a movimentação será checada, independentemente da decisão original.
Ou seja, seu filho de cinco anos pode ser o bandeirinha da final da Copa do Mundo. Se ele se comportar direitinho e segurar a vontade de fazer xixi até o intervalo, sua atuação será tão efetiva quanto seria a do maior auxiliar de todos os tempos.
O árbitro assistente tinha uma função básica, hoje automatizada: acompanhar o último defensor e apontar ou não impedimento. De resto, é fingir assinalar umas faltinhas que o juiz já apitou e, no caso do bandeira 1, que corre perto do banco de reservas do mandante, aguentar as reclamações do técnico da casa.
Na várzea, via de regra, também não há a necessidade de duas pessoas correrem com bandeiras na mão por 90 minutos –ou uns 118, se os anfitriões estiverem perdendo. O juiz, que pode ter jogado o primeiro tempo ou estar se aquecendo para chutar a bola no segundo, observa do círculo central quem está impedido, com curiosa recorrência de irregularidades atribuídas aos visitantes.
O futebol profissional tomou para si a primeira sílaba da várzea, mas não entendeu que a várzea carrega a essência do jogo na sua forma mais pura. E desprezou essa essência ao fuzilar o gol. No tiroteio, matou também o bandeirinha.