Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: O espírito olímpico retratado na igualdade da paralisação

A não realização dos Jogos de Tóquio este ano tem o valor de mostrar que somos todos humanos

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login

São Paulo

Somos todos iguais nesta noite... Alô, povão, agora é fé! O correto, ainda que tardio, adiamento da Olimpíada de Tóquio para 2021 era a decisão que faltava para a paralisação total da indústria do esporte.

A metáfora olímpica perfeita é que estamos todos parados: atletas de ponta americanos, esportistas anônimos africanos, promessas asiáticas bem cotadas, veteranos europeus no ocaso, futebolistas milionários, judocas abnegados, tenistas consagrados, canoístas batalhadores, poderosas fabricantes multinacionais de material esportivo, fãs apaixonados, empresários, jornalistas, youtubers picaretas...

Homem com máscara contra o coronavírus passa pelos aros olímpicos em Tóquio; Jogos foram adiados para o ano que vem, ainda sem data para acontecer - Philip Fong - 11.mar.20/AFP

Não há diferença entre terra batida, asfalto esburacado e pista de ponta: ninguém pode treinar em nenhum piso; a Liga dos Campeões da Europa está paralisada igualzinho a Libertadores; a bola não sobe nem na NBA, nem no NBB...

As piscinas, as quadras e as salas de ginástica dos condomínios estão fechadas. Para os condôminos, para os funcionários dos edifícios e para as diaristas. Os elevadores social e de serviço nunca foram tão iguais: ninguém quer a companhia de ninguém.

Canalhas ignóbeis e calhordas vis, que contabilizam "5 mil ou 7 mil" mortes de "velhinhos" como bobagem estatística, também estão paralisados. Como estão parados os "moleques da favela que não pegam" o vírus, ou a "gripezinha", talkey.

Não há dinheiro que faça rei do camarote gastar porque as boates estão fechadas. Não há artista, plateia, carrão nem flanelinha.

Se Olimpíada, na origem, era uma forma de unir e entrelaçar os povos, a não realização dos Jogos tem o valor de mostrar que, sejamos da elite de Milão ou moradores da mais pobre aldeia africana, somos todos humanos. Não há grã-fino vendedor de hambúrgueres, nem coroa narciso com laquê ridículo no cabelo, nem todo o dinheiro e ouro do mundo que mude isso.

José Saramago: "Saberemos cada vez menos o que é um ser humano".

Eu sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL. É tudo nosso! É nóis na banca!

Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

Notícias relacionadas