Criada pelo escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo durante o regime militar, a "velhinha de Taubaté", uma otimista incorrigível, está cada vez mais bem representada no esporte.
Um vizinho de Piracicaba, por exemplo, iniciou o ano preocupado com a grana e com a logística para acompanhar o XV na Libertadores de 2021. Ele vislumbrava a conquista da Copa do Brasil deste ano e, diferentemente de boa parte dos torcedores alvinegros, mostrou-se incrédulo com a queda na segunda fase do torneio.
É difícil não se recordar da inocente personagem de Veríssimo a cada entrevista do lateral espanhol Juanfran. Com a experiência de ter conquistado títulos na Europa, ele insiste em dizer, desde sua chegada, que o São Paulo está cada vez mais perto de encerrar a seca sem levantar uma taça importante.
No futebol, nada é impossível —e o Tricolor até foi bem contra a LDU—, mas não dá para comparar, ao menos neste momento, o desempenho do time em relação a Flamengo e Palmeiras, que, pelo andar da carruagem, têm tudo para monopolizar, entre os clubes brasileiros, as grandes competições.
Quem também parece um tanto fora da realidade é Ronaldinho Gaúcho. Preso no Paraguai, distribui sorrisos com as mãos algemadas. Aparenta grande alegria a caminho do tribunal. Tira fotos e dá autógrafos como se não pesassem sobre ele e o irmão acusações de uso de documentos falsos, participação em pirâmide de criptomoedas, crime ambiental etc.
A síndrome da "velhinha de Taubaté" também atinge multidões em ano de Olimpíada: depois de três anos e meio no ostracismo, sobrevivendo com parcos recursos —cada vez menores— de governos e de patrocinadores e sem estrutura de treino adequada, os atletas brasileiros são praticamente intimados a trazer uma medalha de ouro para o país.
É claro que sonhar e acreditar em tudo, como a "velhinha", não custam nada, mas um bom choque de realidade, especialmente em tempos tão estranhos, pode evitar futuras decepções.
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