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Caneladas do Vitão: Pedra sobre pedra

Distopia verde-amarela

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São Paulo

Atirar a primeira pedra é coisa de pecador amador.

O pior do futebol é muito melhor que a vida. A cena de palmeirenses e são-paulinos se digladiando, barbaramente, no gramado na arena romana do Pacaembu na decisão da Supercopa de 1995 é coisa do milênio passado. Duelo bucólico e quase romântico se comparado aos tempos selvagens atuais.

A decência e a humanidade foram destruídas conscientemente. Pedra sobre pedra! Uma sobre a outra!

As palavras perderam o sentido. Escondidas sob eufemismo ou falsos apelidos.

Tucanaram o fascismo higienista canalha: agora é política de acolhimento socioassistencial! É o escambau!

Atirar a primeira pedra é coisa de torcedor amador travestido de vilão uniformizado. Buchas de canhão que fazem papel de figurante canastrão em programas policialescos de quinta categoria que vivem da violência que fingem combater.

O mundo mudou. As pedras pararam de voar como na batalha campal do Pacaembu. Agora elas são fixadas pelo poder público sob viadutos. Na pós-verdade, rima fácil e triste de desumanidade, bandido é o mocinho. É uma evolução à política de tacar fogo sem querer nas favelas. Até porque o filme já estava ficando queimado de tão óbvio e manjado. Na era atual, da pedra lascada, os pedregulhos são fixados sob viadutos para impedir que moradores de rua (não todos, só a parcela que tem o hábito de não morrer) sobrevivam às ruas e sumam.

Antigamente, eram os cristãos jogados aos leões. Sob aplausos efusivos, excitados e sádicos dos romanos. Agora são os cristãos sem Cristo que aplaudem a selva de pedras contra a parcela humilde. E ainda xingam quem luta contra isso, caso do padre Júlio Lancelotti, caso raro, quase único, de cristão que segue Cristo. Sem fazer arminha asquerosa com a mão. Com machado para golpear o fascismo empedrado na forma ignóbil de paralelepípedo!

No futebol, os torcedores pobres já foram expulsos das arenas faz muito tempo. E até das ruas do entorno. Mas sem pedras. No máximo, e com frequência, o Estado fardado desce a borracha educativa à senhores escravagistas.

É pau, é pedra, é tudo para tirar o pobre do caminho!

Bertolt Brecht: "Estar contra o fascismo sem estar contra o capitalismo — ou rebelar-se contra a barbárie que nasce da barbárie — equivale a pedir um pedaço do bezerro sem querer sacrificá-lo".

Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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