Ação social transforma e doa bikes paradas em prédios
Organização retira bicicletas abandonadas e desempregados ganham profissão
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Condomínios residenciais têm, em sua maioria, piscinas, academias e salões de festas. Mas também dezenas de bicicletas acumuladas penduradas, empoeiradas, com peças quebradas, sem uso, e, praticamente, abandonadas nas garagens por moradores.
O Instituto Aromeiazero, organização paulistana fundada há oito anos, dá soluções para acabar com o “cemitério de bikes” nos prédios, inclusive comerciais.
A entidade vai até o local, pega e recupera as bicicletas, adultas e infantis, para serem doadas.
E o mais bacana: a cara nova da magrela é dada por alunos em situação de vulnerabilidade social, como desempregados ou de baixa renda, inscritos em curso que mescla mecânica e geração de renda pelo meio de transporte sustentável.
Mas antes de ir buscar as bicicletas descartadas, existe toda uma ação de conscientização dos síndicos e moradores sobre a importância de se dar um destino a algo que poderia ser jogado fora ou estaria sem uso.
Praticamente, um trabalho de formiguinha desenvolvido pela equipe da Aromeiazero, que tem à frente o publicitário Murilo Casagrande Modolo, 37 anos.
“Nossa proposta é que mais pessoas possam ter acesso a tudo que a bicicleta gera de bom”, afirma.
Pedagoga que abandonou a carreira para cuidar dos trigêmeos, hoje com 14 anos, a síndica Simone
Alonso Kishiue, 47, colocou ordem nos dois bicicletários do condomínio onde mora na Lapa (zona oeste).
“Estavam lotados. As bicicletas não eram catalogadas nem tinham identificação, todas empoeiradas.
Depois de 40 dias de prazo, os donos de oito delas não apareceram e doamos para a Aromeiazero. Eles têm um trabalho interessante”, diz.
Desde 2011, a ONG já recebeu mais de 1.000 bicicletas de doação. Nem todas, porém, vindas dos condomínios. Outras 3.721 foram consertadas, entre as aulas do curso de mecânica e as oficinas comunitárias oferecidas, principalmente em regiões de periferia da cidade.
Oficina atrai moradores da periferia
Desde 2016, o projeto Viver de Bike, um dos braços da Aromeiazero, possibilita que jovens e adultos de bairros periféricos de São Paulo possam sonhar com uma realidade bem diferente. E mais do que isso: aquela bicicleta, fruto de doação, funciona como ferramenta de transformação.
“A bike possibilita que pessoas da periferia, como eu, venham até o centro, onde há opções de cultura e de lazer”, diz o eletricista Paulo Alexandre da Silva, 31 anos, do Limão (zona norte), um dos 30 alunos inscritos no curso de mecânica e empreendedorismo.
Para chegar à oficina, no Arena Radical, na Vila Olímpia (zona sul), ele pedala 12 quilômetros.
Além da parte mecânica, os alunos têm 30 horas de economia corporativa e empreendedorismo.
A psicóloga Terezinha Falcão Barreto, 32, da Vila Sônia (zona sul), diz que seu objetivo é aprender a parte mecânica. “Quero ter minha autonomia, por exemplo, de trocar um pneu”, diz.
Apenas 6 de 56 magrelas podem rodar
O subsíndico Luiz Roberto Modolo iniciará uma nova campanha no condomínio onde mora, na Lapa, para doação das bikes. Das 56 bicicletas paradas na garagem, 50 estavam com pneus murchos ou enferrujadas na última quinta-feira (13). E, pelo menos, 15 delas em completo abandono.
Na prática, apenas seis das bicicletas dos moradores do local dariam para sair pedalando, sem precisar fazer algum reparo ou encher os pneus.
O condomínio de Modolo foi o primeiro prédio que doou cerca de 25 bicicletas ao Instituto Aromeiazero, logo no início do projeto social. Agora, os moradores se preparam para reeditar a boa ação.
A velha Monark era usada como varal antes de ser reformada
Nascida em Nápoles, sul da Itália, a arquiteta e urbanista Viola Sellerino, 35 anos, foi aluna na sexta turma do curso Viver de Bike, no início de 2018, época em que ganhava alguns reais quando surgiam paredes residenciais para pintar. Logo virou assistente do, então, instrutor pela habilidades mecânicas nata. Hoje, ela é professora do projeto.
O português quase perfeito, com o leve sotaque típico italiano, é dos oito anos no Brasil. “Sempre fui curiosa”, conta, ao relembrar que tudo começou quanto ganhou uma bicicleta, há 6 anos, toda destruída.
“Iam jogar a Amarela fora. Não dava nem mais para pedalar a bicicleta. Funcionava como o varal das camisetas molhadas”, diz.
E foi em uma oficina comunitária gratuita que teve as primeiras noções de mecânica e ali se apaixonou. Além de conseguir revitalizar sua Monark Canyon, anos 1990.
“Nosso papel é fortalecer a cultura da bicicleta como um meio de geração de renda e de transformação social das pessoas com a cidade”, afirma. (