Tatuagem de segurança alerta para alergias e doenças crônicas
Cada vez mais pessoas procuram colocar na pele informações sobre seus problemas de saúde
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A tatuagem tem se tornado algo cada vez mais comum entre, principalmente entre os mais jovens. Mas também tem sido aliada na área da saúde.
São as tatuagens de segurança, tendência que tem ganhado espaço entre pessoas com doenças crônicas, alérgicas a medicamentos e portadores de outros problemas sérios de saúde.
Caso do paciente diabético que, com medo de desmaiar e receber uma medicação inadequada, tatua o nome da doença: diabetes tipo 1 ou tipo 2.
Geralmente, o alerta é tatuado no antebraço (dobra do cotovelo), onde normalmente é injetado o medicamento na veia e fica de fácil visão, segundo a empresária e tatuadora Ana Savoy.
A professora de português e inglês Elis Netto Neves, 29 anos, moradora no Aricanduva (zona leste), tem fibrose cística, doença de origem genética que afeta pulmões, pâncreas e sistema digestivo. Foi diagnosticada aos dois meses de idade.
Durante a 9ª Tattoo Week, que ocorreu em São Paulo no fim de outubro, Elis tatuou gratuitamente no braço direito a CID (Classificação Internacional da Doença), mais os nomes dos medicamentos a que diz ser alérgica: AAS (ácido acetilsalicílico), penicilina e corticoide.
"Espero que auxilie bastante. Já cansei de bater boca no hospital por conta de medicação errada", afirma a professora, que chamou a atenção dos seus alunos com a novidade gravada no braço. "Muitos disseram que recomendariam as tatuagens de segurança aos familiares", conta.
Apavorada com os efeitos colaterais que o medicamento plasil lhe causa se aplicado na veia (crises de ansiedade e pânico, entre outros), a relações públicas Bruna de Abreu Moreira, 33 anos, da região do Guarapiranga (zona sul), tatuou o alerta. "Eu resolvi tatuar no braço direito, caso tenha uma crise em algum lugar. Escrevi no papel o nome do medicamento para ser repassado na pele", diz Bruna.
Segundo os médicos, os efeitos do plasil, nome comercial da substância metoclopramida, podem provocar essa reação relatada originária no sistema nervoso. Ou seja, alguns pacientes têm intolerância à medicação, mas não se trata de alergia.
Médico não recomenda em caso de alergia
Diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, o alergista Marcelo Aun, 38 anos, não recomenda a tatuagem de segurança nos casos de alergia.
"A primeira coisa a fazer é a pessoa procurar pelo médico especialista. A maioria nem investigou e tatua na pele que é alérgico", diz.
O médico explica que os diagnósticos de alergia são bem mais complexos e podem não ser definitivos. Ao contrário, por exemplo, de um paciente diabético.
"Alguns pacientes fazem sua lista de alergias, muitas vezes inadequadas. Alergia não é para sempre muitas vezes", critica o especialista.
Nos casos das pessoas diagnosticadas alérgicas, Aun explica que o médico sempre emite um documento. Ele recomenda aos pacientes que reproduzam uma cópia reduzida plastificada e coloquem junto ao RG.
No hospital, mesmo quando o paciente chega em uma situação de emergência e sozinho, o funcionário sempre buscará por um documento da pessoa para abertura da ficha.
Feira em São Paulo tatua 350 pessoas de graça
Durante a 9ª Tattoo Week 2019, maior feira de tatuagem do país e ocorrida no São Paulo Expo, 380 pessoas participaram de ação social coordenada pela Tattoo do Bem, em parceria com o projeto Arte com Paixão.
Deste total, 350, entre diabéticos, hipertensos e alérgicos cadastrados previamente, ganharam as tatuagens de segurança.
Marcelo Rogatte, 39 anos, 20 como tatuador em Mogi Mirim (151 km de SP), participou pela primeira vez da ação. Nas suas contas, ao menos, 20 tatuagens de alerta foram feitas, entre elas, de diabetes tipo 1.
Ele se recordou da amiga que morreu, segundo o tatuador, por ter ingerido medicamento errado no hospital, após ter desmaiado na rua. "Se ela tivesse tatuado no braço o problema que tinha, acho que a teria se salvado", afirma o tatuador.
A dona de casa Adriana Aparecida da Silva, 38 anos, que mora em São Mateus (zona leste), foi uma das tatuadas no braço direito por Rogatte. "É uma garantia para mim", diz Adriana, que há 12 anos foi diagnosticada com miastenia gravis, doença neuromuscular autoimune que provoca fraqueza.
Silvia Maria Alves Pereira, 52 anos, de Jundiaí (58 km de SP), afirma ser alérgica, desde os 17, a três medicamentos e uma substância. Ela foi à feira e fez sua tatuagem. "Cheguei com medo, mas ela [tatuadora] me acolheu e me apoiou."
Projeto também ajudou quem teve câncer de mama
Além das tatuagens de segurança gratuitas oferecidas na Tattoo do Bem, mulheres que venceram o câncer de mama também foram beneficiadas na ação solidária realizada na feira de tatuagens.
Desde 2012, o projeto Arte com Paixão devolve a autoestima à mulher que se viu obrigada a fazer mastectomia (procedimento para a retirada da mama), uma das fases mais complicadas da doença.
Com o auxílio da tatuagem cosmética e da técnica de micropigmentação, é possível redesenhar as aréolas (círculo pigmentado em torno dos mamilos) das pacientes que precisaram reconstruir os seios, após o tratamento da doença.
"Antes, a mulher evita de se olhar no espelho. Depois tudo muda", afirma a idealizadora do projeto Ana Savoy, tatuadora e micropigmentadora de Campinas (93 km de SP).
Com a doença e as sessões de quimioterapia, há também a perda dos pelos das sobrancelhas. A técnica de micropigmentação permite que os contornos sejam refeitos.
Durante a Tatto do Bem, dos 380 procedimentos gratuitos realizados, 30 foram de aréolas e sobrancelhas, segundo Ana, que coordenou a ação social.
Dona de um instituto de estética, Ana não cobra pelo serviço das pacientes oncológicas. "É o meu dízimo", diz, emocionada.