Descrição de chapéu Zona Sul

Ambulantes fazem rodízio para vender em terminal de ônibus de SP

Esquema no Capão Redondo, na zona sul, conta com líderes que coordenam a venda e olheiros

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São Paulo

Um esquema com líderes que coordenam uma espécie de rodízio de camelôs têm burlado a segurança no terminal de ônibus do Capão Redondo (zona sul).

 

A reportagem esteve no local na manhã de terça-feira (21) e flagrou como funciona o esquema de comércio ilegal, principalmente de gêneros alimentícios.

Em dez minutos, sete ambulantes passaram por baixo do gradil do terminal, que fica na rua Túlio Magnaini.

 
Vendedores ambulantes ilegais jogam produtos sobre gradil do terminal de ônibus de Capão Redondo (zona sul da capital paulista - Rubens Cavallari/Folhapress

Eles também entram pela estrada de Itapecerica, no outro extremo do terminal. Na sequência, comparsas jogam sacos com produtos que serão vendidos a passageiros e funcionários da EMTU (Empresa Municipal de Transportes Urbanos). Em nenhum momento eles foram abordados 
por seguranças.

Outra forma de entrarem no local é com a suposta ajuda de motoristas de ônibus. Segundo um funcionário, os ambulantes embarcam perto do terminal, sem pagar passagem, e quando os veículos estacionam, descem com a mercadoria.

Assim que chegam ao terminal, os ambulantes começam a vender água e salgadinhos. Um “coordenador” avisa o tempo que eles ficarão no local.

Esse “gerente” também recebe o dinheiro das vendas, que é repassado aos chefes dos pontos de venda, que ficam em comércios próximos ao terminal. 

Ao menos dois veículos com mercadorias permanecem na rua, para reabastecer os vendedores.  

Um funcionário do terminal disse, em condição de anonimato, que os turnos dos ambulantes duram cerca de três horas, pelas quais recebem R$ 50. Em cada turno, diz, trabalham cerca de 30 pessoas. Ao menos três olheiros observam a aproximação de seguranças. 

Marcelo Monteiro, delegado da Delpom (Delegacia do Metropolitano), diz que investiga o suposto envolvimento do crime organizado na coordenação dos ambulantes na região. 

“Esse problema é sistêmico, pelo fato de ocorrer o loteamento de espaço público, com pessoas de práticas de crime organizado”, afirma o policial.

Ele diz que a Polícia Civil trabalha em conjunto com com a ViaMobilidade, que administra a estação Capão Redondo da linha 5-lilás do metrô, que fica ao lado do terminal, e com o Decap (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo), para identificar “os cabeças” do esquema. 

Para professor, crime organizado se especializa

Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que o crime organizado “sempre busca oportunidades” para conseguir dinheiro fácil. “Essa é uma tendência do PCC [Primeiro Comando da Capital] de se profissionalizar nas coisas que faz.”

Para o professor de economia Renan Pieri, da FGV, a informalidade “é um problema crônico no Brasil”. Ele diz que a baixa escolaridade, aliada à falta de qualificação profissional, faz com que as pessoas optem por trabalhos à margem, podendo, mesmo que indiretamente, se associar ao crime, que os coordena.

A socióloga Marta Bergamin, da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz que quando situações como a do terminal não são inibidas de início, “acabam sendo assumidas pelo crime”. 

EMTU diz que faz combate aos camelôs

A EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) diz que vai intensificar as fiscalizações nas linhas metropolitanas que fazem ponto final no terminal do Capão Redondo, além de verificar a denúncia de que motoristas estariam ajudando ambulantes.

A Secretaria de Transporte Metropolitanos, sob gestão de João Doria (PSDB), diz que apreendeu no ano passado 2,4 milhões de produtos vendidos ilegalmente em estações do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Em 2018, foram 2 milhões. 

A ViaMobilidade, responsável pela linha 5-lilás do metrô, diz que realizou 1.032 apreensões de mercadorias ilegais em 2019 além de registrar 15 boletins de ocorrência por causa de ameaças e agressões sofridas por seguranças.

Gestão Covas afirma fazer fiscalização

A Subprefeitura Campo Limpo (zona sul), gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que realiza fiscalização no combate ao comércio ilegal nas imediações do terminal do Capão Redondo. 

Ela também diz que irá realizar uma ação, em parceria com a Guarda Civil Metropolitana, para verificar irregularidades “e tomar as providências necessárias.”

A Polícia Militar diz fazer periodicamente operações de apoio à Subprefeitura do Campo Limpo, nas imediações do terminal de ônibus. 

“Esclarecemos que a PM atua em apoio aos fiscais do município e não há registros de materiais apreendidos no entorno do terminal, onde, inclusive, está com a intensificação do policiamento desde o dia 16 de janeiro deste ano”, diz trecho de nota.

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