Em meio à Covid-19, filhos são criativos para homenagear mães
Videochamada é a escolha para matar a saudade e envio do prato preferido ajuda a celebrar data
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O Dia das Mães será diferente neste ano e todos já estão preparados para isso. Coronavírus, isolamento social e a consequente impossibilidade de reunir a família à mesa neste domingo (10) obrigam todos a buscar a proximidade de outras maneiras. A única certeza é que o amor será a conexão.
Filha em São Paulo, mãe na Argentina. Bem diferente do que costumava acontecer até 2019 nesta data. Assim será este domingo para a recepcionista Isabelle Trevizan, 26 anos, e a psicopedagoga Daniela Trevizan, 44.
"Em maio, por ser também o aniversário da minha filha, costumo viajar para o Brasil para ficar com ela e com meu neto. Infelizmente, neste ano, não sei quando poderei vê-los por causa dessa situação", afirma Daniela.
A psicopedagoga viu a filha e o neto em fevereiro. Na Argentina, começou a quarentena em 13 de março e, desde então, não teve como viajar. "O Dia das Mães será diferente. Não tenho nem como sonhar em estar presente. Vamos falar por Whatsapp, por câmera, e assim será", diz.
Do lado de cá, na Bela Vista (região central), Isabelle perdeu o emprego por causa da pandemia e, até o fim da semana, planejava qual surpresa faria para a mãe. Nada parecido, porém, com os almoços de anos anteriores.
"Saímos bastante. A gente gosta muito de um restaurante japonês na Liberdade", diz. Neste ano, mesmo que Daniela estivesse por aqui, o roteiro seria outro. "Só teria delivery", conta a recepcionista.
O sentimento que une a escrevente Edna Maria Pereira Brasil, 61, à contadora Paula Pereira Brasil, 34, é maior que a distância entre São Paulo e Niterói (RJ). "A gente está fazendo um sacrifício de só se ver por vídeo desde 13 de março e tem rolado uma saudade nas últimas vezes. Esse domingo vai um pouco mais intenso", afirma a filha.
Como viajar está fora de cogitação, Paula prepara com a ajuda da irmã uma surpresa. "Tive a ideia de encomendar o almoço de Dia das Mães no restaurante preferido dela. Será risoto de camarão e casquinha de siri de entrada. A minha mãe nem sabe ainda. Só vou avisar que ela não precisa cozinhar nada", diz.
A saudade cresce nos dias em um quarto de pensão
O coronavírus impõe a distância dos filhos e mata também de saudade. Para algumas mães que são profissionais da saúde, a Covid-19 traz ainda a obrigação de permanecer no campo de batalha durante mais um plantão cuidando dos pacientes infectados.
É o caso da auxiliar de enfermagem Flávia Anunciação, 50 anos, que trabalha no Hospital do Servidor Público Municipal, na capital paulista. Ela tem vivido em um quarto de pensão para não colocar os familiares em risco e, neste Dia das Mães, estará no serviço, longe da filha de 26 anos, que tem problemas respiratórios e está na fila da cirurgia de vesícula.
"Sou uma pessoa extremamente otimista, mas estou em uma semana ruim", afirma. "Esta é uma ruptura da relação familiar. Não tem como não ficar abalada", conta a mãe.
O carinho materno é demonstrado por Flávia também no senso de responsabilidade com a profissão. "As pessoas estão adoecendo, tenho um papel e não posso virar as costas. Sou a mãe da minha filha, mas a pessoa que vou atender é mãe de alguém também", diz.
Embora tenha consciência de sua missão, a auxiliar de enfermagem diz que não dá para romantizar o trabalho. "Não é romântico trabalhar sem EPI [equipamento de proteção individual] e com a sensação de que posso ser infectada", diz.
Filhos farão suas visitas no portão
Difícil é estar na mesma cidade sem dar um abraço e dividir quitutes como frango, lombo e lasanha quentinhos, saídos do forno. Esses pratos sempre foram preparados pela aposentada Elisabeth Leão Rocha, 69 anos, no Dia das Mães.
Apesar desse contratempo pelo coronavírus, Beth esconde a tristeza. "O que mais importa é que meus filhos fiquem protegidos por Deus. Não vamos ficar perto fisicamente, mas estaremos juntos de outra maneira."
O que a aposentada não sabe é que haverá visita. Na hora do almoço, seus quatro filhos estarão no portão do prédio, dentro dos carros, com máscaras, para desejar tudo de bom para a mãe. "Com saúde não dá para brincar", diz a autônoma Alessandra Rodrigues, 48, uma das filhas.