Secretária comemora ter se recuperado da Covid, mas lamenta as mortes pela doença

Aparecida Teixeira se diz triste pela situação em que está o país

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São Paulo

No início, em 19 de março, a secretária bilíngue Aparecida Ribeiro Alves Teixeira, 38 anos, começou a sentir muitas dores nas costas. Uma dor diferente, bem aguda, segundo ela. No dia seguinte, uma sexta-feira, apareceram os sintomas gripais, com coriza e dores de cabeça e nos olhos. A princípio, ela achava que se tratava apenas de uma gripe comum, “porque naquela época só se falava em tosse, febre e falta de ar como sintomas do novo coronavírus”.

Aparecida Ribeiro Alves Teixeira com sua filha, Maitê, e o marido, Celso; ela foi contaminada pelo novo coronavírus após levar a filha ao hospital - Arquivo Pessoal

No sábado, Aparecida diz que os sintomas da gripe melhoraram, mas ela passou a sentir muito cansaço e perdeu o paladar e o olfato. Como o noticiário ainda não falasse sobre esses sintomas, só no domingo ela diz ter desconfiado que estava com a Covid-19. Mesmo assim, continuou seus afazeres em casa. Na segunda-feira, porém sentiu falta de ar pela primeira vez, na hora de dormir.

“De terça para quarta, fui colocar o lixo no mesmo andar do prédio onde moro, mas não aguentava de falta de ar. Fui ao hospital nesse dia”, lembra.

Na consulta, a médica informou que o teste da Covid só era realizado em quem estivesse internado. Por isso, a mandou fazer outros exames para eliminar as possíveis doenças. “A médica disse: ‘Estou vendo que você está com uma infecção e não é dengue. Então, vou te diagnosticar com o coronavírus’. Ela receitou anti-inflamatório, dipirona e inalação, o que melhorou um pouco a falta de ar.”

Aparecida conta que nos dias seguintes ainda ficou com forte dor de cabeça e vomitando, mas não quis voltar para o hospital. Só voltaria se a falta de ar piorasse, o que não foi o caso. “Fiquei mais três dias com falta de ar, mas não era como se precisasse ir para o hospital.”

Nesses dias, ela havia se isolado da filha, Maitê, 3 anos, e do marido, Celso, 39, que é diabético e faz parte do grupo de risco do novo coronavírus. Segundo Cida, Celso teve diarreia apenas um dia, mas não apresentou mais nenhum sintoma.

Ela acredita, no entanto, que pegou a Covid-19 da filha. No início do mês, Maitê havia ficado dez dias com a garganta inflamada e tinha sido levada por Cida ao hospital. Os exames indicaram que a criança estava com um vírus, mas não se sabia qual era. Cinco dias depois, a mãe começou a sentir os sintomas e a filha se recuperou.

Durante o isolamento da família, Aparecida diz ter encontrado muita dificuldade para comprar máscaras. “Meu irmão fez um post no Instagram e conseguimos um pessoal de coração bom que estava fazendo e conseguimos para usar dentro de casa. A máscara ajuda bastante. Se todo mundo estivesse usando máscaras desde o início [da quarentena] não estaríamos do jeito que estamos hoje”, afirma.

Mesmo depois de mais de um mês recuperada, Aparecida ainda sente cansaço e não recuperou 100% do paladar, mas comemora ter contraído o vírus no início da pandemia no Brasil.

“Por um lado, fico feliz que peguei o coronavírus, e não foi sério. Acredito que não vou pegar mais. Mas por outro lado fico muito assustada, sentindo mal ao me colocar no lugar das famílias que não podem nem enterrar os mortos. É muito triste.”

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